SÃO AS PRINCESAS QUE SE SALVAM

Me fechei para o amor, assim como uma planta carnívora fecha as folhas quando se sente ameaçada por um inseto. Eu até já gostei de alguns, mas mando o sentimento para longe, antes que se torne palpável e perceptível. Antes, eu sonhava em ser resgatada por um príncipe em seu cavalo branco, atualizando para os tempos modernos, esbarrar em um homem de meia idade, deixando meus livros caírem e, quando ele se abaixasse para pega-los, nos olharíamos fixamente e seria amor a primeira vista.

Confesso que, tenho medo. Medo de revelar quem sou. De expor minhas fraquezas, assim como cartas na mesa. Tenho medo de que ser reprovada em exatas, me reprove na vida. Tenho medo de me cansar de tentar ser aprovada. Tenho medo que esta parte da minha vida influencie o meu futuro. Tenho medo que, assim como os números, pessoas me rejeitem, se é que já não o fazem. Pois sempre quando me perguntam o que faço da vida e respondo que estou tentado recuperar as exatas, as pessoas se silenciam e mudam sua postura comigo, como se não me achassem capaz, só porque estou tentando há três anos.

Talvez, por isto costumo dizer que não sou a melhor pessoa para se conversar ou se apaixonar. Como tem tempo que não saio, nem sei como está funcionando as formas de paquera. Me tranquei em casa. Assim como uma mulher de quem ouvi falar, adquiri um medo que desconhecia: medo de gente. Ainda leio quando me sinto só. Ainda preparo panquecas como uma chef. Ainda uso a saia azul que todo mundo diz que é bonita, quando me sinto insegura. Ainda compro petiscos para dar aos cãezinhos de rua. E, lá no fundo, sei que ainda sou a mesma de antes de me tornar refém dos números. Posso ter perdido muita coisa, menos uma: a capacidade de sonhar. É assim que me convenço a acreditar que quem vai me libertar dos números, de casa e dos meus medos, não será um príncipe com sua espada e nem um dragão com seu fogo e sim, eu mesma, com as armas que talvez, ainda nem sei como utilizar.