NÃO HÁ PAIXÃO SEM OBSESSÃO?

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“Todas as paixões são exageradas, e são paixões porque exageram”. Assim escreveu, no século XVIII, o escritor francês Sebastien-Roch Nicolas Chamfort (1741-1794). Seriam, mesmo, todas as paixões exageradas? Não poderia haver paixões sem exageros? Na época era um enunciado muito difícil de ser comprovado. Mas hoje, com o avanço na medicina da tecnologia, disponibilizando aparelhos capazes de espionarem o cérebro em plena ação, somado aos adiantados estudos nesse campo, a ciência tem como comprovar que Setastien-Roch não estava sendo exagerado em seu conceito. Os sintomas despertados pela paixão são mesmo "enlouquecedores". Quando se está apaixonado a racionalidade, a concentração, a lógica não funcionam porque são substituídos pela imagem da pessoa que se tornou razão da paixão. Como se diz na linguagem popular, "a pessoa apaixonada só tem os olhos voltados para sua paixão", ou seja, a lembrança da pessoa desejada volta à mente constantemente, mesmo contra a vontade do apaixonado. Ora, e quais são os sintomas da obsessão? São pensamentos ou ideias recorrentes, repetitivas. Então, sem obsessão não há paixão.

Afirmam os especialistas no assunto que o pensamento obsessivo em relação ao ser amado é, até certo ponto, salutar porque não permite a percepção dos defeitos do outro. Daí o dito popular de que "a paixão é cega". Para os apaixonados, nada, ninguém, é tão perfeito como o objeto da paixão. Uma verdadeira obra de arte, mesmo sendo falsa. E nesse sentido cria-se outro fator importante: como os apaixonados só têm "olhos um para o outro", barra qualquer interferência de terceiros no relacionamento. Além de tudo, a obsessão típica dos apaixonados faz com que as pessoas desenvolvam a capacidade de interpretar, com muita facilidade, os sinais dados por seus parceiros. Um suspiro, à vezes, é suficiente para se compreender o momento e antecipar ações e desejos. Falam-se, no mais das vezes, com os olhos, isto é, na troca de olhares; o que é, na verdade, uma deliciosa cumplicidade. Tudo obra da saudável obsessão de um pelo outro, reforçando os laços afetivos.

Se você, por acaso, contesta os argumentos, deve, ao menos, concordar que a paixão serve para aproximar duas pessoas. É ou Noé? ®Sérgio.

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Fontes: Paula Neiva e Karina Pastore, Revista Veja; maio de 2004. Albina Rodrigues Torres, psiquiatra e professora do departamento de neurologia e psiquiatria da Faculdade de Medicina de Botucatu e Universidade Estadual Paulista. Ana Beatriz Barbosa Silva, psiquiatra e autora do livro Mentes e Manias.

Se você encontrar erros (inclusive de português), por favor, relate-me.

Agradeço a leitura do texto e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 29/06/2007
Reeditado em 26/07/2013
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