A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

Prof. Luiz Mascarenhas*

Faz parte do imaginário nacional, toda vez em que se fala sobre o 7 de setembro, o famoso quadro intitulado “Independência ou Morte”, do pintor paraibano Pedro Américo ( uma tela de grandes dimensões, 4,15 x 7,6 m) executada em Florença, na Itália, no ano de 1888 ( isto é, 66 anos depois do fato ocorrido) e que hoje se encontra no Salão Nobre do Museu Paulista da USP ( ou Museu do Ipiranga, como é comumente chamado).

Primeiramente, algumas palavras sobre o célebre quadro. Trata-se de uma pintura; não se pode observá-lo como se fosse um retrato; uma foto fiel daquela tarde ( por volta das 16h30) do dia 7 de setembro de 1822. O pintor Pedro Américo não estava presente àquele fato, pois ele nasceu em 1843 em Areia, na Paraíba. O próprio pintor assim se expressava: “"A realidade inspira, e não escraviza o pintor. Inspira-o aquilo que ela encerra digno de ser oferecido à contemplação pública, mas não o escraviza o quanto encobre contrário aos desígnios da arte, os quais muitas vezes coincidem com os desígnios da Historia.”

O pintor Pedro Américo é uma figura bem controversa da História da Arte no Brasil. Foi amado, odiado, celebrado e criticado... Os críticos de Arte o acusavam de ser um adepto de um “academicismo” muito rígido; ou seja, pintava seguindo as técnicas desse movimento da Arte de forma muito técnica e não passava emoção em suas telas.

Outro ponto foi o do plágio. Existe um quadro, “Batalha de Friedland”, do pintor francês, Ernest Meissonier, pintado em 1875 e que hoje se encontra no Metropolitan Museum of Art , em Nova Iorque, nos EUA, que deixa qualquer brasileiro desconcertado ao vê-lo...é idêntico a obra de Pedro Américo, só que executada 13 anos antes... faz a cabeça da gente pensar muito...

Se analisarmos bem o quadro de Pedro Américo, a Luz da História, verificaremos outras “licenças poéticas” na obra...Primeiro as roupas. Ninguém estava vestido em trajes de gala, como se encontra no quadro. Segundo, a Comitiva de Dom Pedro era bem menor, terceiro, as montarias. Dom Pedro não estava montado em garboso cavalo baio e sim numa pobre mula; tanto ele, quanto os poucos soldados que viajavam junto. Quarto, o riacho Ipiranga se encontra bem mais abaixo desse local; foi forçosamente “puxado” para mais próximo da comitiva, quinto, a casa que aparece na pintura – dita “a casa do Grito” – não existia ali em 1822 – sexto, Dom Pedro não estava com aquela “pose” toda, pois estava sofrendo males do intestino na ocasião...E para finalizar....muito provavelmente, não aconteceu “grito” nenhum...Essa divisa “Independência ou Morte” saiu em um panfleto redigido por Dom Pedro no dia 8 de setembro em São Paulo.

Bem, alguém poderá então pensar, ora, esse quadro é uma mentira. Mas não se trata disso. Aqui entra a questão do Imaginário. Todos os países do mundo usam desse artifício. E no séc. XIX as técnicas de pintura, as escolas ou academias de Arte ensinavam dessa forma. O desenho haveria de ser perfeito e a combinação de cores idem. Telas e quadros de grandes proporções retratando os feitos heroicos de cada nação e momentos históricos marcantes daquele povo; guerras, batalhas, coroações de reis, papas e personagens ilustres da nobreza, do clero e da cavalaria...

Como retratar o momento da Independência, com um Dom Pedro mal vestido, montado em uma mula e ainda por cima, com diarreia? Não seria de bom tom, não é mesmo? Só que há documentos e cartas pessoais que comprovam essa História tão prosaica. Aliás, as cartas de Dom Pedro para a amante, a Marquesa de Santos, deixam qualquer um de cabelo em pé...de ruborizar até os mais liberais de hoje. Dizia indecências e imoralidades uma atrás da outra...

Bem, mas tratemos um pouco da Independência. Bem entendido: independência administrativa e política. Porque a econômica....

Quem, digamos, proclamou a Independência foi o Príncipe Regente, Dom Pedro de Alcântara. E não Dom Pedro I. Ele era filho do Rei de Portugal, Dom João VI, que se refugiou no Brasil ( 1808) e ao regressar para Portugal ( 1821) deixa-o aqui, como Príncipe Regente ( que regia; que governava no lugar do rei ). O Príncipe só recebeu o título de Dom Pedro I após a Independência, quando foi coroado Imperador do Brasil, em 1º de dezembro de 1822; aos 24 anos de idade.

Trata-se a Independência de assunto longo e complexo. Um processo que transcorreu penoso caminho até o dia 7 de setembro e se estendeu com as inúmeras guerras pela Independência, espalhadas pelo país; sobretudo na Bahia, onde se concentravam muitas tropas portuguesas.

Existem outras personagens, pouco estudadas até então, nesse cenário de 1822, da Independência do Brasil. O político paulista José Bonifácio de Andrada e Silva e a Princesa austríaca ( posteriormente Imperatriz) Leopoldina de Habsburgo-Lorena, esposa de Dom Pedro; foram, na verdade os grandes pensadores desse momento e os verdadeiros mentores do novo país. Também há um militar escocês nessa História, Lorde Thomas Alexander Cochrane, estrategista militar que teve um papel relevante na organização de nossa Armada ( marinha) para a expulsão das tropas portuguesas e consolidação desse processo de independência.

Um fato pouco conhecido foram alguns planos, para se resgatar Napoleão Bonaparte de seu exílio e trazê-lo para a América. Primeiro para chefiar a Revolução Pernambucana de 1817 e depois para governar as colônias espanholas...o próprio Cochrane chegou a pensar em tal possibilidade.

A Independência naquele momento de 1822 ter dado certo, foi quase um milagre. Nossa população era praticamente toda analfabeta; de cada dez pessoas, uma sabia ler e escrever. De cada três brasileiros, dois eram escravos ou negros forros ou mestiços ou índios...uma economia agrária assentada no latifúndio monocultor e sustentada pelo tráfico negreiro. Os pouquíssimos ricos eram tão ignorantes e rudes quanto o resto da população...faltava tudo e as desavenças regionais estavam quase atirando o país numa guerra civil.

Para bem entender esse processo de Independência deve buscar conhecer o contexto político e econômico europeu daquele período. Estados Unidos já haviam se libertado havia 46 anos; outros muitos movimentos de independência borbulhavam nas colônias espanholas, desde 1809. As Guerras Napoleônicas na Península Ibérica também tem sua influência, ao invadir Portugal e obrigar a Família Real a se refugiar no Brasil. Célebre é a vinda da Família Real Portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808; este fato transforma totalmente a nossa História.

Claro que existiram outros inúmeros movimentos que assinalavam passos rumo a uma possível ruptura com a Metrópole Portuguesa. Costuma-se citar até a controversa Inconfidência Mineira de 1789...Mas sem dúvida, a estadia de Dom João VI no Rio de Janeiro acelerou nosso processo de Independência, pois inverteu os papéis; a Corte agora era a do Rio de Janeiro. Essa presença do rei em nossas terras, assegurou – de certo modo – a integridade territorial brasileira. Caso contrário, o Brasil teria se esfacelado como a América Espanhola, em vários “países” diferentes: no mínimo 3 países: Amazonas e Grão- Pará ( seria o Norte e Nordeste), um Brasil ( parte do Centro-oeste e o Sudeste) e uma República Rio-grandense ( O Sul)....

Muito de nossa História tem sido resgatado e passado a limpo. Os republicanos de 1889 trataram de reconstruir uma História que lhes conviesse, pintando com cores bizarras por exemplo, o tempo do Brasil Império e buscando outros fatos que lhes desse sustentação ideológica, como é o caso de nossa Inconfidência Mineira...só aqui em Minas, foram dezenas de revoltas, conjurações e inconfidências...Curvelo, Pitangui, Rio das Velhas, Rio São Francisco...

O mais importante é a formação do Cidadão. Um país evoluído é constituído por cidadãos esclarecidos, dotados de espírito crítico, conhecedores de seus Direitos e bons cumpridores de seus Deveres. Ainda há muito para se construir o Brasil. E essa construção começa na Família e passa pela Escola. Escola para se formar bons profissionais sim, mas excelentes cidadãos. Que saibam o que é Política e que saibam bem utilizar sua maior arma na construção do país: O VOTO. Eis aqui a verdadeira REVOLUÇÃO. Quando nosso povo aprender a bem votar. A acompanhar de perto os atos políticos e a cobrar de seus representantes as respostas às demandas do povo. Assim e somente assim, construiremos a INDEPENDÊNCIA DO BRASIL.

Luiz Mascarenhas
Enviado por Luiz Mascarenhas em 09/02/2016
Reeditado em 15/05/2017
Código do texto: T5538117
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