Um Ano no Céu
 
Não reclame da crise. Trabalhe. Seja criativo. Faça como o Aedes aegypti que começou pequeno e hoje é bem-sucedido com 3 produtos no mercado.
Carlos Bertolazzi

Chegaram à Terra os dois astronautas que participavam de missão preparatória a uma potencial visita a Marte, depois de passarem quase um ano no espaço. Tiraram fotografias incríveis, tiveram algumas horas de diversão na falta de gravidade, devem ter tido bons papos.
Eu, talvez, enlouquecesse. Ou não. Munida de um computador com editor de textos, escreveria muito, terminaria o romance que não arrumo tempo para passar do terceiro capítulo, desenharia os quadrinhos de meu próximo livro que não consigo publicar por falta de compromisso dos ilustradores que já tentei contratar, anteciparia em muitas edições a crônica para o jornal. Se tivesse acesso à internet, seria mais fácil passar o tempo, mas, certamente não produziria tanto e não sei se garantiria a sanidade, com tanta baboseira que lemos nas redes sociais, tanta desgraça nos jornais.
Daí que os dois astronautas voltaram. Sorridentes, fazendo piadas e planos sobre o que farão ao retornarem às bases. Não vou dizer que tinham boa aparência. Foram apresentados enrolados em panos e atados a umas estruturas que faziam lembrar cadeiras de roda. Ou macas, sei lá. Achei meio assustador, a ideia que a imagem passou de voltar de uma viagem dessas amarrado a uma cama.
Daí, lembrei do filminho concorrente ao Oscar, sobre o sujeito que fica perdido em Marte. O filme narra o esforço dele em sobreviver e dos demais para trazê-lo de volta. Deixar pra lá e mandar plantar batatas? Ele tentou, mas a atmosfera inóspita do planeta vermelho torrou as plantinhas.
Por falar em viagens, estava aqui pensando onde passar as férias e, pra qualquer lugar que penso ir, tem mosquito transmissor de mazelas. Achou a palavra "mazela" meio antiguinha? Antigo é o Aedes, que já havia sido erradicado do País e voltou a aporrinhar.
Melhor ficar em casa... Se lá também não fosse área de risco.
Ir pro exterior? Tem H1N1 nos States.
Deu paúra! Acho que vou me enfiar numa bolha. Ou, quem sabe, me candidatar a uma missão de um ano no espaço?

 
Texto publicado no Jornal Alô Brasília de hoje.