A morte triste das utilidades e serviços

O pombo correio ainda vive,

mas não é mais o carteiro.

O carteiro ainda existe,

mas agora entrega pacotes.

no padrão amarelo, via sedex

O telegrafo, o telegrama foram sequestrados pelo telex.

O telex faleceu, a maquina de datilografia morreu

A calculadora de manivela desapareceu.

Fundiram-se todos na saudade e na dor

transformaram-se no eficiente computador.

Que tudo vê, tudo faz

Mostrando-se senhor do mundo na tela do monitor

Rendendo royalties ao seu inventor

Que também inventou a TV que tudo vê,

Mas nem tudo mostra

Os cavalos das carroças, das minhas roças

agora são cavalos do meu poderoso motor

mostrando a morte das charretes e dos chicotes

que sangravam indefesos cangotes.

Os meninos de recado, os estafetas

perderam suas gorjetas

figuras obsoletas

E assim, desse jeito

Tudo perfeito

Minhas mãos se tornaram inúteis

em torno de coisas fúteis

O mundo será regido pela ociosidade

Ninguém produzirá mais nada

Ninguém receberá

Ninguém comprará

Mais nada.

Hoje produzimos milhões de toneladas de grãos,

sem que o homem toque em mais nada

a não ser o motorista do trator

que vai semear, que vai regar, que vai colher

que vai ensacar, marcar, rotular, etiquetar,

imprimir a guia de exportação

Triste sina da produção

que não tem mais um pingo de suor

do peão

do barracão

do fundo da plantação.