CURURU

O que é, o que é...? Tem cara de sapo, apelido de sapo, só anda dando pulinhos, age como sapo, é frio feito sapo, mas não é batráquio?

É por essas e outras que os humanos se diferenciam das outras espécies animais, apesar de terem a mesma origem e destino. Todos somos pó e ao pó voltaremos, segundo conceito universal que jamais foi contestado, até pelas mais ortodoxas religiões, criadas pelo homem para subjugar seus semelhantes.

Pois bem. Se formos analisar o zoológico terráqueo ao qual pertencemos, certamente o leitor teria um, dois ou até, muitos exemplos de figuras como a que desejamos situar neste despretensioso texto. E não vale colocar entre tais elementos, os cínicos, apenas por serem cínicos; os sem caráter, apenas por não terem sido dotados de ética, moral e outras características inerentes às pessoas decentes; os desonestos, os pusilânimes, os hipócritas, os falsos, os intrigantes, os invejosos, os gulosos, principalmente se a ‘gula’ for aquela insaciável sede do erário, etc.

Pois bem. O destino deste intróito é para um ‘cururu’ que conhecemos há uns vinte e cinco anos e que já conseguiu enganar centenas, quem sabe até, milhares de pessoas de boa fé. Aqui e alhures, sem ser alcançado pela Justiça dos Homens.

O fato que vamos narrar, nos foi contado por uma das suas vítimas, uma pessoa experiente em matéria comercial, mas que se deixou levar pela lábia e pela apresentação que lhe foi feita do ‘batráquio’ – segundo o amigo da vítima, ‘homem possuidor de muita terra em locais nobres da cidade’, cujas áreas tiveram valorização galopante na primeira década do ano 2 mil do terceiro milênio.

A vítima que não terá seu nome revelado pois nem sabe que estou narrando tais fatos, trouxe alguns investidores paulistas, interessados em se instalarem na cidade. E o ‘batráquio’ se deu bem. Vendeu uma grande área e recebeu ‘cash’. Numa dessas transações, passou a vítima para trás, mas continuou a assediá-la para novos negócios, comprometendo-se a ‘acertar’ a pendência. Feito o negócio, tornou a passar a vítima para trás, mais uma, duas, três vezes, até que a vítima resolveu vingar-se do seu traidor. Como sempre, conseguiu novos compradores para uma grande área do ‘batráquio’, mas desta feita o cururu teria que ir à China, já que os investidores residiam em mansões, nas imediações de Pequim. O ‘batráquio’ entrou em êxtase e garantiu que pagaria as pendências com a vítima sob a condição de que ela o acompanhasse nessa longa viagem. A vítima, entretanto, disse-lhe que não poderia ir, mas tinha uma brasileira sua amiga e corretora, que havia conseguido a realização do negócio, que também morava há alguns Kms. de Pequim, que o receberia no aeroporto e o hospedaria em local próximo à sua casa para ficarem em permanente contato. Assim o ‘batráquio’ viajou para o outro lado do Planeta, levando uma cueca grande cheia de dinheiro, em notas de 50 e 100 dólares, devidamente instruído pela corretora Mary, quanto ao valor nominal das notas. O ‘batráquio’ levou cerca de 60 mil dólares, apenas para as despesas de hospedagem e locomoção na China e pagamento de comissões, acertados com a corretora. Lá chegando encontrou a Mary no aeroporto com um cartaz de alerta, escrito em português, no qual se identificava.

- ‘Que mulher linda’, pensou o ‘batráquio’. - ‘Eu hoje vou me dar bem’... Recebeu um abraço e beijinhos no rosto gordo e com aquele bocão imenso deixou um pouco da sua ansiedade no rosto da bela Mary. Ela o alojou em seu carro e viajaram por cerca de duas horas para a zona rural e lá ela o hospedou numa ‘pousada’ de estrada. Conversaram, marcaram encontro para o dia seguinte e despediram-se. Como combinado ela voltou no horário aprazado e disse-lhe que os investidores haviam feito uma breve viagem, mas que estariam na pousada no dia seguinte à tarde, O ‘batráquio’ queixou-se de estar só, em lugar esmo, que não sabia falar mandarim, língua local, nem inglês e que tinha dificuldades de pedir as refeições. Ela quis saber o que ele gostaria de comer no café da manhã, no almoço ou no jantar e foi anotando o que era possível, de acordo com o cardápio que se encontrava no quarto da vítima. Anotou em mandarim o nome dos pratos pela ordem e disse: - Na hora, você diz para o garçon qual desses você quer, Cada um está em papeleta separada com um lembrete no verso: café da manhã, almoço e jantar. Assim fica fácil.

Como o ‘batráquio’ mostrou-se preocupado em ser furtado com a quantia que levara do Brasil, a Mary pediu que deixasse a grana com ela. Ele só iria precisar do dinheiro quando fosse pagar a conta da pousada que poderia ainda ser através do cartão internacional que portava. O ‘batráquio’ pegou a cueca com os 60 mil dólares e entregou a Mary, desculpando-se pelo fato de ter levado a grana na cueca. – Você sabe, né... Seguro morreu de velho, falou sorrindo, as bochechas a balançarem bestialmente.

Esta foi a última vez que o ‘batráquio’ viu a Mary, cujo nome verdadeiro era Lurdes e tratava-se de uma espécie de ‘pistoleira’, habituada a dar o golpe conhecido por ‘boa-noite, Cinderela’. Batráquio passou mais uma semana e como não tivesse como saber quem eram os investidores, muito menos onde encontrar aquela linda mulher, teve que gastar um dinheirão para voltar ao aeroporto e pegar o avião para São Paulo.

No dia seguinte ligou para a vítima que havia combinado tudo com a corretora de araque (uma mulher de programa que ele conheceu na Bahia e habituada a dar golpes), apenas buscando vingança. Uma pequena vingança para o mau caráter do ‘batráquio’ que nunca mais o procurou e mais: que não conta este fato a ninguém. Nem a pau! Afinal, ‘batráquio’ é o rei dos golpes e não chora no pé do caboclo, se é que me entendem os leitores...

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 26/11/2017
Código do texto: T6182558
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