LEMBRANÇAS QUE NÃO SE APAGAM

LEMBRANÇAS QUE NÃO SE APAGAM



Na longínqua década dos anos cinqüenta, nossa comunidade era um pequeno vilarejo. Sem energia elétrica, suas casas de uma simplicidade ímpar. Havia uma meia dúzia de chalés, um pouco mais modernos, mas sem nenhum luxo. Nada de eletrodoméstico. Pouquíssimos rádios. Somente algumas pessoas de poder aquisitivo mais elevado, os possuíam. Havia: apenas três pequenos comércios, as tradicionais vendas comercializando, ferramentas e gêneros de primeiras necessidades. Alguns botequinhos, uma farmácia, padaria, posto policial, o grupo escolar, cartório de registro civil. Uma beneficiadora de arroz movida por um motor a diesel. No mais: o trabalho braçal em sua maioria lavrador havia também as costureiras, os carpinteiros, ferreiros e folheiro. No setor rural a atividade agro pastoril economia que girava com a produção de creme de leite, cereais e a engoda de suínos. No vale do rio Picão considerado como nossa pequena Mesopotâmia, cujas águas mamando as extensas áreas cultivada por arrozais, que após o plantio iniciavam seu ciclo produtivo cobertas pelo encantador verde esperança e terminava  na colheita com o amarelo cor deouro, o carro forte aquecendo a economia local com sua volumosa produção

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As diversões e áreas de lazer, não existiam em nossa vila nem nas regiões adjacentes. O meio de transporte precário somado as péssimas condições das estradas, tornava longínquas as pequenas distancias. Um pequeno parque ou circo que pintava no povoado era um prato cheio, preenchendo a nossa carência por diversões.
Lembro-me de um belo dia... Em 1959 estávamos no final do outono, o sol amarelo já vertido para o poente bailava por entre as nuvens brancas, que, como plumas de algodão, vagavam sem rumo no infinito azul do céu. O escapamento de uma mangueira no motor me fizera interromper meu trabalho, cessando a barulheira da maquina de beneficiar arroz. Por alguns minutos, ficou inóspito o entorno naquele meu local de trabalho, aliviando meus ouvidos e de os vizinhos mais próximos. Descontraído eu tentava sanar o problema. De repente explodiu no ar uma bela e harmoniosa melodia como se caindo das nuvens, quebrando o silencio e a monotonia do pacato vilarejo.
Pareceu-me algo sublime vindo das alturas, como se fosse acordes de uma orquestra encantada. Por momentos meu imaginário foi tomado por uma inexplicável magia invadindo-me a alma.
Eu... Um adolescente de 17anos, em pleno advento da juventude, sonhador e enamorado de uma linda garota três anos mais nova do que eu, cheio de energia e vitalidade, sonhando mil fantasias. Inesperadamente senti-me inebriado por aquela sensação mágica, que mais parecia, o som provocado pelo cântico de uma sereia; peguei minha bicicleta e fui conferir o que estava ocorrendo.
Era um parque de diversões recém chegado, sem ser percebido pela maioria dos moradores. Atualmente não seria nem notado, mas naquela época diante de tamanha carência em lazer, uma aparelhagem daquela, era para nos de tirar o fôlego.
Fico imaginando como seriam os jovens da atualidade vivenciando pelo menos uma semana nessas condições, será que suportariam. Antes de submetê-los a essa experiência teriam que construir inúmeros hospícios.


 

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 23/08/2020
Reeditado em 10/04/2024
Código do texto: T7043819
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