Imprecisas Considerações

Sentada aqui no Parkshopping, olho as pessoas que passam ao meu redor, absortas e indiferentes, como se carregassem na mente um turbilhão de pensamentos desconexos e sentimentos confusos. E lá embaixo a fonte jorra jatos esbranquiçados de água espumante e eu penso...

Penso no mundo estranho que se desenrola à minha frente e penso em mim, estranha personagem desse mundo que corre lá fora.

Penso no passar dos dias, na consumação da rotina que prende, mas muitas vezes fascina; penso no inesperado momento que me aguarda lá fora, como se de repente, na paisagem deserta do meu pensamento, algo se fizesse presente.

Penso na incerteza dos dias e dos acontecimentos, no marasmo do sentimento e na voragem inexplicável do tempo, que tudo arrasta lentamente, como se todo o universo lhe pertencesse.

Penso em mim, apenas um rosto, aqui sentada, escrevendo as minhas imprecisas considerações, numa tarde de abril, de uma terça-feira, depois de feriado.

Provavelmente, este seja o motivo, obscuro, do meu gesto neste instante - falar do que passa lá fora, pensando no que se passa aqui dentro, dentro do pensamento.

Tudo parece estranhamente normal, as pessoas passam, a fonte jorra, os garçons se aprestam em atender solícitos aos seus fregueses - todos caras desconhecidas, de corações, também, desconhecidos.

Acho que estou nostálgica. Não sei, porém, por que.

Mas algo em meus olhos dá-me a certeza de que estou triste e depois tem essa pressão no peito, que confirma o estranho dos meus olhos.

Mas isso não tem importância, agora; o que importa é o princípio de noite que cai lá fora.

Há no poente, uma estrela no céu. O sol já desceu no horizonte e as nuvens se matizam de cores, rosa, lilás, azul, vermelho, o dourado já se foi...

Ao longe, delineia-se o perfil suave da lua crescente, um tênue fio de prata, recurvado e suavemente iluminado.

Ah! Mas eu continuo aqui e ao meu redor, as pessoas passam indiferentes ao mundo lá fora. Ninguém ainda se deu conta de que a noite já caiu e o céu se matizou de estrelas e de luzes infinitamente belas.

E ninguém lá fora, sabe que aqui dentro, alguém sabe das luzes e dos risos lá de fora...

Mas eu sei... E eu estou aqui, aqui dentro e ninguém lá fora sabe que eu existo... Que eu sonho... Que eu vivo... Que eu sorrio... Que eu amo... E, principalmente, que eu penso...

Penso em tudo isso, sem que ninguém se dê conta.

E é gostoso pensar nessa diversidade de sentimentos e pensamentos, enquanto as pessoas passam e de nada se dão conta...

E vão-se pela vida arrastando sonhos, escondendo sentimentos, assim incógnitas, porém com seus semblantes expressivos e denunciadores... enquanto aqui dentro a fonte jorra...

Arádia Raymon
Enviado por Arádia Raymon em 03/01/2008
Reeditado em 22/11/2023
Código do texto: T801859
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