CHAMANDO URUBU DE MEU LOURO...
Problemas de comunicação...como existem! Se parássemos para prestar atenção a eles, teríamos razão para rir dias seguidos! Como se fala uma coisa e se ouve outra por aí; como se confunde alhos com bugalhos!
Lembro-me de um caso ouvido de uma prima; sairia em excursão pelo Rio afora um bando de gente da família, menos ela. Alegou: - "Não suporto sair de touca! Lavei meus cabelos e enrolei, estão cheios de grampos, um horror! Fiz uma touca para alisá-los, então não vou"!
Aí alguém ligou para perguntar o motivo pelo qual não iria e quem atendeu o telefone, por uma razão qualquer, foi o avô... que tinha escutado por alto aquela história de touca, mas ouviu uma coisa e escutou outra - fazendo com que respondesse, a testa franzida, ele mesmo um tanto atônito, a quem esperava do outro lado da linha:
- Ela não vai porque não quer sair de touca...está lá com uma touquinha, um bonezinho no cabelo...
Anos antes, este mesmo avô quase pega as duas filhas de tapas porque as ouviu combinando de jogar tamboretes na rua - tamboretes! Aquele joguinho com duas baquetinhas para rebater a bola, parecido com o frescobol, jogo antigo que nem existe mais...Mas, sendo nordestino, lugar do Brasil cheio de regionalismos de linguagem, ele entendeu foi que as duas iam jogar sem mais nem menos os bancos da mesa da cozinha na rua, porque é assim que lá em Pernambuco também se chama aqueles banquinhos: de tamboretes!
- Que jogar meus tamboretes na rua o quê!!! Estão doidas??!!!... explodiu, diante das gargalhadas das duas filhas.
Hoje me conta uma amiga que, por sua vez, pediu n'outro dia para almoçar, no serviço de entrega de um restaurante próximo, uma feijoada; só que uma feijoada peculiar, como ela aprecia: sem couve, sem farofa, sem laranja... só o feijão, o arroz, as carnes...ao que, talvez devido a ter sido enfática demais nestas exclusões, o atendente lhe enviou a feijoada...sem feijão! Só o arroz e as carnes!
De outra vez, como eu também exclua tudo isso da minha feijoada, o mesmo restaurante fez o mesmo comigo devido a esta história da gente falar uma coisa e eles ouvirem outra... só que fizeram pior: mandaram só o feijão com as carnes. Sem mais nada, nem o arroz.
Já o saudoso Fernando Sabino, o brilhante cronista, nos dizia destes pandemônios verbais no seu famoso texto Macacos me Mordam, onde conta com requintes de humor um episódio em que o serviço de telégrafo transmite errada a mensagem de um cientista para o outro, em outra cidade, da seguinte forma: em lugar de "favor remeter 1 ou 2 macacos", escreveram: "favor remeter 1002 macacos" - que poucos dias depois chegavam de trem, alvoroçados, diante do pânico do cientista em questão, para acabar com o sossego da cidadezinha pequena!
Para arrematar, faz mais ou menos quatro anos que meus dois filhos se engalfinharam numa teimosia barulhenta e escandalosa bem na hora em que trabalhava num texto, e como a minha paciência se esgotasse levando-me a ordenar, peremptória, que caissem fora, os dois, do quarto antes que o tempo se fechasse definitivamente, a menorzinha deles me desmonta soltando a pérola, enfezadíssima, mãozinhas minúsculas na cintura e testa franzida:
- Você não vai jogar a gente fora não, viu?!!...