Tiros no Bar


Estavam no bar de sempre, por volta das oito da noite. A banda executava, com perfeição, um grande sucesso não muito antigo. Tentavam lembrar-se de quem era. Cirilo "alguma coisa". Era um daqueles artistas de quinze minutos que lançam algum "líder de audiência" e depois desaparecem. Quando a música ia pela metade, um barulho muito alto e forte soou, silenciando a banda e o burburinho dos ocupantes das mesas em volta.
- Rojão? Hoje teve jogo??
- Não, idiota! Olha lá!
O "lá" era a entrada do bar, onde um homem com olhos injetados de ódio apontava sua arma na direção da banda e disparava mais uma vez, acertando, novamente, a caixa de som.
Gritos, pânico, correria. Público e garçons enfiaram-se sob as mesas. Os músicos refugiaram-se atrás do balcão. O homem deu mais um tiro que acertou o suporte do microfone fazendo-o voar longe, não sem antes lançar desesperado, num silvo agudo de microfonia, o seu grito de adeus.
Do mesmo modo que chegou, o homem foi embora e entrou numa casa ao lado. A polícia foi chamada, levaram o sujeito embora.
Refeitos do susto, todos voltavam aos seus lugares, quando o dono do bar pegou o microfone jogado a um canto, testou-o, viu que ainda funcionava e se desculpou pelo que chamou de inconveniente.
- Inconveniente?? A bala passou entre as minhas pernas, gritou o baixista.
O líder da banda olhava desolado a caixa destruída, quando uma senhora timidamente aproximou-se dele. Conversaram por uns instantes e saíram juntos até a casa do atirador, de onde vieram trazendo uma caixa um pouco antiga, muito empoeirada e ainda melhor e mais potente do que a que fora atingida, além de um novo pedestal.
A banda reiniciou sua apresentação. Mais tarde, um dos garçons nos contou o que soube. A mulher que veio depois era a mãe do maluco. O sujeito era músico e chegara a fazer um enorme sucesso há alguns anos. De repente, esquecido pela mídia, entrou em depressão, se isolou do mundo. O nome dele?
- Cirilo alguma coisa... Conhecem?