O Galho Indiscreto

O Galho Indiscreto

Ana Esther

Os dois passarinhos já estavam acostumados, todos os fins de tarde se reuniam no galho da árvore com outros de seus amigos para um propósito inusitado. Eram fãs ardorosos do programa que passava na TV da moradora do apartamento ao nível do galho deles.

- Oi, como chegaste cedo hoje! Me bateste.

- É, hoje eu não perco o nosso programa favorito por nada neste mundo. Vim cedo assim para pegar o melhor lugar no galho.

- O pessoal já deve estar chegando, foi bom nos empoleirarmos antes de todos, a vista daqui é ótima, bem de frente pra TV.

- Hoje é a última parte do programa sobre as aves que não voam. É hilariante, que coisa mais bizarra. Aves que não voam! Acho que é invenção desta gente de TV.

- Concordo. Isso não faz sentido, ter asas e não poder voar. É puro sensacionalismo destes humanos, efeitos especiais dos cinegrafistas.

- Ei, olha só, a moça do apartamento 202 já ligou a TV, mas não é esse o canal do programa. Será que ela não vai querer ver o último episódio da série? Ficou louca? Ela viu todos os outros.

- Ah, e o que aquele cara está fazendo ali com as taças de vinho? Eu nunca vi ninguém visitando a criatura neste horário.

- Ai, meu Deus, será que ele quer ver outro programa?

- Ufa, até que enfim ela lembrou de trocar o canal. Lá está a abertura do programa!

- Não! O que é isto? Ela teve a audácia de desligar a TV... Eu vou ter um troço. O que será mais interessante do que o nosso programa?

- Chi, olha lá! Pelo que parece chegou a época de acasalamento dos humanos... Deu para o nosso programa...

*Esta crônica apareceu no jornal literário Letras Santiaguenses Ano XI - No.71 Setembro/Outubro 2007, na pág. 07 (Santiago, RS).

Ana Esther
Enviado por Ana Esther em 19/04/2008
Reeditado em 20/04/2008
Código do texto: T953105