A ORAÇÃO DO RIO JORDÃO

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Nos dias de hoje, nas cidades modernas, não se vê mais o “breve” ou o “patuá” - como também era conhecido - pendurado ao pescoço, principalmente «daqueles que querem ter o corpo fechado». O breve foi substituído pelos correntões de ouro, ou banhados a ouro, simbolizando o poder. Mas entre os habitantes dos sertões ainda podemos encontrar muitos patuás, que é nada mais que um saquinho (costurado) de pano ou couro, contendo em seu interior (escrito em um papel), uma oração; ou, em outros casos, arruda, guiné, etc. Ou ainda, a medalhinha de um santo.

No sertão nordestino não havia cangaceiro que não usasse um breve. Acreditavam que se a oração fosse rezada com fé, tornava-os invisíveis, de corpo fechado e desarmava o inimigo. A oração preferida dos cangaceiros, segundo eles próprios, era a do Rio Jordão, que além de estar no patuá deveria ser repetida antes de qualquer entrevero. Era, mais ou menos, assim:

“Estava no rio Jordão o Senhor. Chegou São João e disse: Alevanta-te, Senhor, que lá vêm os inimigos teus. Deixa vir, João, que todos vêm atados dos pés e mãos e almas e coração. Com dois eu te vejo, com três eu te ato. O sangue eu te bebo, o coração eu te parto. Vocês todos ficarão humildes e mansos como a sola dos meus sapatos (diz três vezes, batendo com o pé direito). Deus quer, Deus pode, Deus acaba tudo quanto eu e Deus quisermos.”

Conta-se que Rio Preto foi ferido, Antônio Silvino preso e Lampião morto porque haviam perdido o patuá. Pode ser que a oração fosse ineficaz, mas que, diante de um enfrentamento, tinha um grande fator psicológico, isso lá tinha.

Por falar em crença, aqui, entre nossos sertanejos, havia a crença de que a figueira (aquela árvore enorme e frondosa) era planta do diabo. Na sexta-feira, à noite, não se devia passar por baixo de uma figueira. Era tido como certo que nesse dia da semana, havia, nas figueiras, reuniões de demônios que ali faziam suas orgias. Os sertanejos que tinham suas casas perto de uma figueira desenhavam em suas portas o "sino de Samão", ou seja, o signo de Salomão, para afastar o “tinhoso” e livrá-los de sua tentação. E se uma voz estranha chamasse lá fora, não se devia abrir a porta, pois com certeza era um demo querendo entrar e tentar as pessoas.

Salve-se; quem puder! ®Sérgio.

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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 29/04/2008
Reeditado em 06/06/2013
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