A Musa Ribeirinha

A Musa Ribeirinha

Célia Matos

E ali está ela, em minha frente, a morena mais bonita da escola. Ela veste uma miniatura de mini-saia, exibindo um par perfeito de pernas - digo, as pernas mais bem feitas que já vi.

Observo-a quase disfarçadamente.

A juventude em pessoa, dentro dos seus 18 anos completos - e ela, nem desconfia meu encantamento pelo quadro - a sua desconcertante beleza, maravilhosamente ingênua e indiferente a tudo. Agasalha-se na cadeira, meneia a cabeça, estica aquilo que ''inocentemente'' diz ser uma mini-saia. Puxa de um lado, puxa do outro, sem causar o menor efeito, ou melhor, o efeito é desesperador nos garotos que, de esguelha, veem o melhor fenômeno da natureza, ali, exibindo-se bem à sua frente - até parece que , quando as meninas vestem tal peça, a pretenção é, realmente, provocar os pobres rapazes, testando sua capacidade de tolerancia.

Voltando a sua beldade em foco, vejo-a olhar ao redor __ ela nem percebe-me __ Estica o pescoço, dá uma sorrateira olhada no trabalho da colega, que procura desvencilhar-se e esconder o objeto do seu intento.__Pobre garota, às vezes pena por sua beleza. As mulheres sofrem de mesquinhez aguda quando se deparam com tal capricho da natureza__ Observo seu colo, quase desnudo, pois o que ela diz ser bluza, mais parece um retalho fininho. __Incrível !!! numa escola particular, permitir essas vestes...só pode ser o olho de alguém, será do porteiro ??? e o Sr. Diretor, onde estará ? __Aquele colo !!! imagine o mais belo par de seios que alguém já sonhou, pequenos e durinhos que fazem uma silhueta perfeita. Suas mãos, bem tratadas, dedos longos e unhas compridas e bem feitas (nem parecem mãos de plebéia). Sua pele morena clara, é um convite a passar a mão, mesmo que seja com a desculpa de tirar uma grande mecha de lindos cabelos negros e longos, do seu rosto ou dos seus ombros e jogá-los às suas costas, também nuas e perfeitas.

Nervosamente mexia-se, olhava o relógio e voltava se mexer, talvez por causa da avaliação que fazia e, então, chamava a atenção para seus pés __que se meu amigo Vicente os visse, com certeza diria ser pés de anjo e tentaria beijá-los__dentro de sandálias altas, pés lindos, unhas bem tratadas, chamava atenção para os traçados suaves.

Retorno a realidade, lembro-me a que vim que, com certeza, não foi para observar alguém e viajar no tempo, revivendo minha própria juventude. Ando pela sala, atendo a alguém que reclama minha presença, enquanto observo os dotes físicos dessa garota, lindo fruto das nossas terras ribeirinhas.

Como nem tudo é perfeito, fico a imaginar minha pobre capacidade intelectual passeando naquele corpo escultural, mas como diz o famozo dito popular, ''Deus não dá asas a cobras'', sorrio desse pensamento e continuo a observar a moça esforçando-se para disfarçar o intuito de ''colar'' do colega que, diga-se de passagem, daria tudo para passar a cola a ela, mas não deu, estou muito próximo e, embevecida com o cenário, relembro alguns anos atrás, quando eu, com a idade atual dela, a conheci criança,na roça. Era magrela, feia , sem graça e descabelada, com os pés sujos descalços, mais parecia um bichinho do mato. Era uma criança, por demais silenciosa, mas que não perdia um só detalhe dos meus gestos, das minhas roupas, do meu andar,do meu trabalho (censo rural) __tenho certeza que observava-me tão intensamente como eu hoje, pois eu, era a ''moça bunita da cidade qui mexe cum tantão de papel''__dentro daquele silencio que predomina em sua pessoa, destoa da beleza que, hoje ostenta.

Quando ela anda, Ahh!! quando ela anda, é como se convidasse todos a olhá-la; exala sensualidade em todos os movimentos.

Pena que em perfeito desequilibrio a tamanha prova de beleza a pobre musa seja desprovida de alguma vivacidade intelectual e sofra horrores ao realizar um simples teste de sondagem de conhecimentos da Lingua Portuguesa.

Escrito em 22/12/98

Célia Matos
Enviado por Célia Matos em 20/05/2008
Código do texto: T998083
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