Fuga ou...

Fuga ou...

Célia Matos

Inverno quente esse, tarde ardente de sábado, caracteristica típica das terras ribeirinhas. No ar (ou nos sentimentos de alguém), tudo incita e contribui para acontecimentos marcantes, para alguém , em especial, a utopia se faz real,mesclando-se em sonhos outrora adormecidos, misturando-se com devaneios soltos e calientes.

Ela caminha, passos firmes, queimando a pele alva no escaldante sol da sua cidade a beira do rio São Francisco . Não se desvia do seu objetivo, decidida, enfrenta seus próximos atos como uma forma de salvar a si mesma da dura realidade que é sua vidinha monótona e insossa. Dobra a próxima esquina, o coração aos saltos ( tá chegando !!!!). ''A pressão arterial deve ter subido...meu Deus !!!'' pensa , mas não recua do seu intento. ''Calma Nêga, chegou até aqui, chegará até o final...senão como irá descobrir suas inquietações ?'' .

Num segundo revive todas as falas a distancia entre eles e todas as fagulhas se rebentam de novo em seu interior, estremece só em repensar o que diziam, '' que loucura !!!, mas que coisa boaaa !!!'' e sorri, ao tocar a campanhia da casa onde parou.

O moço que a recebe, está com ares de quem acabou de sair do banho, se barbeara , se escovara e ''HUMMMMM, que delicia de perfume, esse é dos bons !!!!''...deixa escapar um longo suspiro quando ele a beija profundamente e deliciosamente...'' Ai, fiquei tonta, será que vou desmaiar ??? Credo !! pode não !!! Calma !!!'' mil borboletas voavam sobre sua cabeça, mas não desmaiou, apenas retribuiu com paixão aquele cumprimento tão...gostozo.

As circunstancias transformara-os em dois adolescentes, cumprimentam-se como tal e daí tudo ilustra aquele momento. Ao som de finíssimas vozes da MPB, o tempo funde-se num vértice previsível de ternura infinita, em poucas horas, escrevendo algumas linhas em sua história.

Tudo muito limpo e lindo. Dois adultos (quarentões) com sentidos todos alertas, transpirava animosidade em todos os poros. Enquanto falavam da vida, trocavam carícias, falavam de amor, de suas experiencias e carencias...''sem compromisso'', era uma lavagem de tristezas passadas e presentes, ausentes ali , naquele momento, que não admitia intromissões estraga prazeres.

Nos olhos sonhadores da mulher solitária, submissa até então, às mazelas e caprichos de um tal tirano, mas era exigente demais para expor-se (talvez por isso seja tão só e tem medo de ''arriscar'').

Os dois extremos tão opostos, mas tão reais, buscavam essa sublimação sob o encanto de suas vozes. Ele curioso, desejava antecipar o encontro, fazendo convites constantes, canalizava através das linhas da tecnologia todo desejo de vê-la de perto, de sentir de perto toda volúpia daquela voz extremamente sedutora, modulada, sensual e por demais carente.Ele, talvez, segundo ela, estava apenas curioso, não fugindo às origens do macho. Ela, fantasiava cada sonho, esperava seu chamado, queria ouvi-lo sempre, sentia saudades...carecia freneticamente em experimentar o enlevo ou ''feitiço'', desde o primeiro toque, desde o engano de chamada quando ele esticou a conversa, querendo ouvi-la mais e voltando a ligar de novo, como que constando a veracidade daquele engano ou para ouvir, novamente aquela doçura na voz dela. E extasiado ficara, querendo saber de quem se tratava, ''quem é a dona daquela voz ?''.

Como a encantara aqueles elogios !

Como a fascinava o mistério da sedução !.

Ela, anciosa, aguardava uma oportunidade que seria o ''grande momento'', mas temia mortalmente, a coragem sempre fugia. Enquanto isso, pesava todos os prós e contras e seu corpo sempre respondia a favor. Diante de todos os encontros imaginários dela, perdiam os grandes dramas romãnticos de W. Shakspeare e também para aventuras de Stevem Spylberg.

Ignorando o sol que castigava aquela tarde, alguns meses após, ultrapassando todos os obstáculos, enche-se de coragem e chama-o...ele diz apenas: ''Oi amor'', e rapidamente o ''quando e o onde'' são determinados. Determina-se nos passos e encontra-o e encanta-se, ainda mais com o ''Casanova'' atencioso, educado, inteligente e romantico, mais do que o do filme que assitira.

Ai ! que pena, duas horas e meia voam, enfim, fora a protagonista do su próprio enredo, nem seria necessário o alerta geral, pois para ambos o que importava era o presente....''e que presente...''

A quem deseja enganar, se até hoje o Casanova se faz presente, mais cavalheiro do que antes e, ela acorda, somente para virar o travesseiro (segundo a lenda, se sonhar com seu amor, vire o travesseiro que ele sonhará com você).

Mas ela sabe: ele encanta a tantas que a tantas encantam. É sua natureza experimentar, diversificar, ''passear em vários castelos'', provar de muitos doces, enquanto lhe for possivel, sendo plebeu, jamais perder a magestade da franqueza absoluta, conquistando e deixando saudades, grandes marcas boas de serem lembradas. Arrebatando corações da forma mais sedutora que convém a um ''Bom Vivant''.

Saúde ''Casanova'', até um dia, ou quem sabe.....

Escrito em 18/07/2002

Célia Matos
Enviado por Célia Matos em 21/05/2008
Código do texto: T999591
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