DISCURSO ACLERJ

 

 

Excelentíssimo Sr. Presidente da Academia de Letras do Estado do Rio de Janeiro – ACLERJ – Dr. Hugo Gonçalves Roma, que nesta data muito me honra ao paraninfar minha posse neste sodalício.

Excelentíssimo Sr. Presidente da Confederação das Academias de Letras do Brasil – CONFALB – emérito escritor Francisco Silva Nobre.

Excelentíssimos Srs. componentes desta douta mesa.

Excelentíssimos Srs. acadêmicos desta entidade; autoridades presentes. Minhas senhoras e meus senhores que compõem este seleto auditório.

Expresso hoje os meus sinceros agradecimentos ao meu amigo árcade Antônio Raimundo Tosto Filho, que realizou meu grande sonho: ser empossada nesta casa de cultura.

Muito obrigada a todos que depositaram um voto de confiança à minha pessoa. Tenho plena certeza que saberei honrar este solene momento como mais uma “ACLERJiana” a empunhar nossa querida bandeira, elevando-a aos píncaros da glória; bem como, seguirei fielmente tudo o que consta em nosso estatuto e regimento interno, pelo desenvolvimento da cultura em prol do nosso torrão verde e amarelo.

Tentarei discorrer agora sobre a vida do patrono na Cadeira Patronímica do imortal escritor e jornalista Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha:

 

            Nasceu em Santa Rita do Rio Negro, no Rio de Janeiro em 1866 e iniciou seus estudos em colégios da Bahia e do Rio de Janeiro. Concluindo parte dos estudos, matriculou-se no Colégio Militar; de onde foi expulso por insubordinação.

            Estudou Engenharia e – com o advento da República – retornou ao Exército. Dedicou-se à Engenharia Civil e ao Jornalismo, trabalhando em São Paulo e no Rio de Janeiro. Escreveu Os Sertões durante a Guerra de Canudos, da qual participou em missão de jornalismo pelo O Estado de São Paulo.

Constatou em sua obra que o sertanejo é forte; a despeito da carga histórica, das precárias condições locais e da forte miscigenação das raças.

Euclides da Cunha continuou evolucionista e determinista; baseado nas teorias científicas que dominavam na época (final do século XIX). Além de documentar o conflito entre as diferentes culturas, criou uma linguagem própria pela observação sistemática da realidade da região. Como jornalista publicou trabalhos de natureza sociológica. Alguns críticos comparam seu senso crítico ao de Machado de Assis.

Com a publicação de Os Sertões (sua principal obra literária), Euclides da Cunha inaugurou uma versão da literatura brasileira muito diferente do Sertanismo e Romantismo de José de Alencar, com um texto entre Literatura e Sociologia.  Traçou um novo itinerário, que foi seguido pelos romances da década de 30 – o mesmo de Guimarães Rosa, com O Grande Sertão: Veredas (1956).

No episódio da Guerra de Canudos fez uma interpretação do País, em que o Brasil civilizado do litoral se confrontava com um Brasil agreste, bárbaro e trágico do Sertão. O que mais impressiona na linguagem de Os Sertões é a caracterização do cenário e das personagens da guerra. Euclides relata a superioridade do ‘homem do litoral’ frente ao retrógrado sertanejo. Mas os elementos naturais e sociais da terra do Sertão – por serem incompreendidos – levaram o exército republicano e a própria civilização a uma degeneração dos atos e comportamentos, causando o fim inevitável e último recurso frente ao desconhecido, ao selvagem e ao bárbaro.

Essa tensão repete a própria oscilação entre euforia e disforia que Euclides viveu na compreensão da Guerra de Canudos depois de acompanhar os acontecimentos entre Agosto e Outubro de 1897, como correspondente de seu jornal. Esta foi a sua bagagem científica de formação de engenheiro militar; de forma que interpretou previamente o confronto entre o exército e os seguidores de Antonio Conselheiro como resultado da marcha positiva da história sobre as ‘raças inferiores e incultas das áreas atrasadas do País’. Porém, com o transcorrer da luta e especialmente com a execução sumária da população restante de Canudos, Euclides percebeu que o crime e a loucura estavam encrustados na própria civilização do litoral, enquanto a força estava no sertanejo. Mas Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento de seu povo.

Euclides da Cunha faleceu no Rio de Janeiro em 1909 após a morte dos seus últimos defensores; mas logo a sua frente rugia um batalhão de soldados enraivecidos.

Lidia Albuquerque
Enviado por Lidia Albuquerque em 31/10/2008
Reeditado em 10/11/2008
Código do texto: T1258426
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