O SUB-NIILISMO DESNUTRIDO - Comentários acerca do texto “A vida dos estudantes” de Walter Benjamin
O SUB-NIILISMO DESNUTRIDO
Comentários acerca do texto “A vida dos estudantes” de Walter Benjamin(1)
“A liberdade está em retirada – tanto no domínio do pensamento como no da sociedade” Herbert Marcuse
O espírito da utopia, a herança desencantada de uma liberdade imobilizada, tem sido, hoje em dia, estupidamente difamada por bocas apócrifas. A barbárie emana sua face acadêmica naquela indiferença sádica, que possui como método e perfídia o cinismo bem informado. Esse é o sub-niilismo desnutrido do estudante contemporâneo, que revela em sua tenebrosa decomposição política, a petrificação da esperança.
Na euforia de sua má formação, o acadêmico pretende, com ar de esperto, expiar a gênese de sua burrice, com a apologia ao malogro histórico dos célebres paradigmas vencidos. Criando dentro de si, um fantasmagórico abismo entre passado e presente, cientificamente denominado: crise da modernidade. Sem experiência, nem pobreza, o estudante, possui em seu olhar, a catatonia desfigurada de uma pequena burguesia em naufrágio.
Essas versões transgênicas de neoliberalismo e universidade reduziram a concepção de mediocridade à insignificância crassa. Os alunos tornaram-se simulacros, extensões ideológicas mesquinhas da autoridade simbólica mais próxima. Autômatos com hipócrita pretensão ao pensamento.
Sem arte, música ou poesia o estudante, categorizado como “pós-moderno” vislumbra em sua catarse trágica o peso da mercantilização de sua existência. Seu novo absoluto metafísico é o mercado. O humanismo e a revolução só receberam o estigma cruel de estagnados porque o eu tornou-se, na ascensão de sua insignificância, demasiadamente estranho a si próprio. Esses são os pressupostos, para a celebração da barbárie que o acadêmico aplaude no frenesi de sua corrupção.
Destituído de seu espírito, essas tristes crianças funestas, se debatem silenciosamente sobre os escombros insuportáveis do real. O seu ventre está podre, incapaz de gerar a emancipação dentro de si; o verniz de sua beleza é sintético o suficiente para exigir uma náusea vingativa. Nossas artistas não encantam sequer um bêbado melancólico.
Mas esse desprezo pela nostalgia sentencia o poder do passado. Não se trata de imortalizar as lembranças gloriosas que na imagem do cotidiano se convertem em fracasso. Mas sim, de tentar despertar desse feitiço - a inutilidade institucionalizada – para resgatar em nossa essência o todo da nossa autonomia renegada. Não se trata apenas de impotência, mas também de covardia e traição semiveladas. Devemos trocar esse suicida narcisismo apaixonado pelo antigo e necessário quixotismo clássico.
Aos que dizem que a história acabou, respondo:
- “O Poeta deve apressar o tempo” Maiakóvski
E nós o devemos conjurar como um espectro demoníaco encarcerado no anti-herói.
Está na hora de consagrar autenticamente as velhas letras de música para transcender esse alegórico desespero mudo: o cotidiano.
“Talvez seja hoje menos irresponsável pintar uma utopia fundamentada que difamar como utopia condições e possibilidades que já há muito tornaram-se possibilidades realizáveis.” Herbert Marcuse
(1) BENJAMIM, Walter. Documentos de Cultura, documentos de barbárie.