VOLTANDO ATRÁS

Numa situação típica de todo o vasto interior Brasileiro, tambem aqui nestes cafundós de Minas Gerais, outrora cabos eleitorais ajagunçados, a mando dos coroneis, prendiam eleitores dos partidos contrários, junto com seus respectivos títulos, nos fundos de quintais, e os soltavam só quando já havia terminado o prazo de votação daquela eleição. O peão que sofria tal desaforo, ao descrevê-lo a algum descendente, inoculava nele a mesma dose de ódio que havia sentido. Eis aí o mecanisno de perpetuação de um ressentimento. Os neo coroneis, ainda hoje, praticam contra a massa desvalida o que herdaram, de uma maneira muito mais sutil escamoteadamente, por vias não tão bizarras. Estes mecanismo de transferências deixaram e ainda deixam na posteridade dos peões marcas profundas e doloridas que se manifestam claramente no tecido social Passense. Entre tantas outras, a má vontade eleitoral é um exemplo vivo de reação da massa ressentida.

Herança de profundas antipatias, na qual são alvo pessoas, familias, e por fim, até mesmo classes sociais inteiras. Nisto reside o motivo de nossa ausência de afinidade política; forte aversão e até mesmo uma implícita hostilidade. A maioria absoluta do eleitorado Passense vota por votar, mas nutre ódio contra as pessoas que apresentam candidaturas. A grande massa nunca teve razão para acreditar que Passos fosse verdadeiramente uma cidade dela. A geração dos coroneis e neo coroneis deram a esta grande massa toda razão para que ela viesse a cultivar semelhante maneira de pensar e sentir.

E então ela pergunta: para que ajudar uma cidade que é propriedade apenas dos bem nascidos? E ainda exclama: esta gente que apossa da política, da riqueza e da cultura Passense! A massa sempre se sentiu excluida de tais valores, porque não se identifica com as pessoas que os possuem. A origem desta aversão foi o carater violento de um nefasto periodo de briga de coroneis.

O ódio inconsciente está impedindo Passos de gozar um futuro brilhante, fomos agraciados com um patrimonio natural de meter água na boca de todos quantos o veem. O sentimento de vingança que povoa a consciencia coletiva da população Passense sempre existiu e precisamos, para curá-lo, pô-lo a descoberto. Caso contrário continuaremos avalisando uma instituição provinciana que damos o nome de " Bolsa do negativismo" este pregão do fracasso se delicia em divulgar falências e quebradeiras; instituição maléfica onde uma diabólica roleta, cujo crupiê poderia ser muito bem o próprio satanaz, canta desde separações conjugais, prejuizos, golpes, quebradeiras, traições conjugais, e tudo mais de ruim que a insanidade põe na boca deste ninho de víboras, ninho que faz desta fedentina toda, sua diversão preferida. O inconsciente coletivo expulsa seus traumas em forma de golfadas negativistas: é ser humano torcendo pelo fracasso de outro ser humano. Falências sendo avidamente esperadas e até mesmo aplaudidas. A banca neurótica elabora listas imensas de firmas que estão a beira do abismo. E aí há um mórbido estribilho de contagem regressiva, ao fim da qual vem o sádico orgasmo diante da cabeça que rolou, e alguns fazem até questão de recebê-la em uma bandeja de prata.

De agora em diante precisamos entrar na era do perdão. Mas perdão mesmo, não estas simulações do propalado mas nunca honrado bloco do consenso. Vejo agora, nesta eleição que se aproxima, um tímido desejo de cerrar fileira em torno de um nome, precisamos dar as mãos.

O Passense pobre vem sendo desde sempre, espremido entre a dissidência e a subserviência, e esta situação não pode ser do seu interesse. Mas o novo horizonte que parece estar despontando poderá ser uma aurora de um futuro promissor.