Cadê você?/ Abelardo Santos

Cadê você?/ Abelardo Santos

O Menino de ouro da Rádio Nacional

Quando o carteiro apareceu na porta da Ladeira do Farias, na Saúde, com o esperado telegrama, o menino Abelardo não se conteve. Rolou a imensa escadaria para alcançar a carta que lhe abria as portas da carreira. Afinal, ela continha o chamado de uma entrevista na poderosa Rádio Nacional. “Tive que assinar o contrato depois porque após esse lance fui para o hospital”, relembra Abelardo Santos, que diz com precisão o dia em que entrou para a emissora: 1º de agosto de 1950. E de cara recebeu papel de protagonista, o moleque pobre Valdir na novela “Pecado original”, escrita por Mário Brasine. “Com certeza atuei em todas as novelas da casa. Comecei como narrador infantil, junto com Rodney Gomes e o Victor Bino, filho de Yara Sales. Nos corredores me chamavam de ‘o menino de ouro’”.

Antes da Nacional, com 10 anos, o carioca Abelardo tentou a sorte na Rádio Tupi em um programa infantil. Ele tinha que recitar e depois cantar a musica escolhida. Munido de “Normalista”. Sucesso de Nelson Gonçalves. Abelardo teve um desempenho tão bom que acabou sendo fisgado para o radioteatro da casa. O diretor Olavo de Barros estava na platéia na hora do teste e o chamou para o elenco de “Meu trágico destino”, novela escrita e protagonizada por J. Silvestre. “Eu fazia o papel do Silvestre criança. No elenco estavam ainda Paulo porto, Haydée Vieira, Ribeiro Fortes, Ida Gomes e Yoná Magalhães. Que chegava ao estúdio com roupa de colegial”.

Tiete

Afastado da Nacional desde fevereiro de 1967, Abelardo Santos hoje trabalha no gabinete do vereador Agnaldo Timóteo, a quem refuta como um dos maiores cantores de MPB, juntamente com Emílio Santiago. “Acho que sou um pouco tiete do Agnaldo, que possui uma voz primorosa, alem de ser uma pessoa super generosa e dono de um coração enorme”, bate palmas Abelardo, do alto de seus 47 anos de carreira e 57 de vida. Paralelamente ao trabalho com Timóteo, Abelardo canta no conjunto Ternura Antiga que faz bailes da terceira idade em clubes como o da Portuguesa. “De um modo geral canto bolero, samba-canção, fox e repertório internacional”, avisa.

Memorialista sem ser saudosista, Abelardo evoca os bons tempos da Nacional. “Sinto falta de tudo que aprendi por lá. Éramos uma família e a rádio primava pela perfeita organização”.

Amizades

Abelardo recorda com carinho amizades com Dalva Oliveira, Julie Joy, Angelita Martinez, Dolores Duran e Sylvinha Telles. Com Dalva, “aprendi a ser humilde mesmo com o sucesso batendo na porta” De Julie se lembra do carinho, de inteligência, da beleza e da cultura da cantora. De Angelita, com que dividiu apartamento, faz questão de dizer: “Ela nunca namorou o Garrincha e sim um outro jogador tão famoso quanto ele”, deixa o mistério no ar e joga por terras as declarações do livro “A estrela solitária”, de Ruy Castro. Já com Dolores aprendeu a cantar em inglês e evoca as caronas do Centro para Copacabana sempre acompanhado de Sylvinha Telles.

Do pessoal do rádio, fala com ternura de Isis de Oliveira, “a maior radioatriz de todos os tempos”. Ismênia dos Santos, Abigail Maia, Iracema de Alencar, Olga Nobre, Daisy Lúcidi, Henriqueta Brieba, Elza Gomes e Vanda Lacerda. “Foram todas minhas mães nas radionovelas da Nacional”. E outro trunfo: durante quatro anos consecutivos, Abelardo foi eleito pela “Revista do Rádio” como melhor radiador infantil. Abelardo ainda faz questão de citar os autores com quem trabalhou: Gloria Magadan. Eurico Silva. Ghiaroni, Oduvaldo Viana, Janete Clair, Mário Lago e os galãs Roberto Faissal, Domício Costa. Celso Guimarães, Álvaro Aguiar, Milton Rangel.

Trabalhos

Paralelamente ás novelas no rádio, Abelardo fazia outros trabalhos: cantou na noite no Beco da Garrafas, Fez revista (“Arco-íris”, no Teatro República), pontava textos para André Villon e Daisy Lúcidi nas versas comédias encenadas no Mesbla, atuou em “O pulo do gato”, curta-metragem com direção de Maurício Sherman, narrou histórias infantis do “festival GE”, programa infantil com orquestra regida por Léo Peracchi e Radamés Gnatalli, e participou com Chico Anysio nos programas escritos por Antonio Maria, na Mayrink Veiga, além de dublagens na Hebert Richers, onde travou amizade com Newton da Matta e Darcy Pedrosa, e shows no Night and Day e 1.800.

De 1967 a 1989, Abelardo integrou o elenco de “Brasiliana”, o espetáculo folclórico que rodou pela Europa e Estados Unidos. “Fizemos a viagem inaugural do navio ‘Eugenio C’ e estreamos na Inglaterra”, relembra. “Fomos o único grupo brasileiro que atuou no Greek Theatre, em Hollywood”, destaca o autor, que em 72 retornou ao país para fazer “Brasil export”, no Canecão. Quando voltou definitivamente, trabalhou nos shows “Baiah Tropical’, em Salvador, e por quatro anos integrou o elenco de “Golden Brasil”, no Scala..
Lidia Albuquerque
Enviado por Lidia Albuquerque em 08/02/2010
Código do texto: T2075762
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.