Homenagem ao Bar do Escritor do Orkut - 1

Ïndio não quer cachimbo, quer fumaça

Por Me Morte

No Bar a fumaça atrapalha a visão dos que entram, os que lá estão nem se importam, encharcados pelo álcool, não distinguem fumaça de luz néon. A rotina era essa, corpos alcoolizados, música ambiente, cigarros, risos,...A garçonete olhava tudo com olhos diferentes, especialmente nessa noite estava diferente, como se repensasse toda sua vida.

-Hei Me, traz meu conhaque. Ta de moleza mulher? Era Véio China, sempre mal acostumado, achava que ela tinha que esperá-lo com o copo à mesa.

-Olha o jeito caboclo. Eu não bato em véio e nem bebum, mas mais respeito com minha nega. Disse Doctor, sempre tomando as dores da moça, como se fosse seu dono, ela tinha grande carinho pelo moço, o chamava de Guapeca, cão vira lata no dialeto gauchêz.

-Ao trabalho. Sirva a mesa do fundo, eu cuido desses bebuns. Querem tratamento de primeira? Eu dou. O Barman depositou com força o copo de conhaque à mesa do velho. Ele percebera o olhar perdido da moça e sabia que não estava bem.Se o Bar não tivesse tão cheio até a dispensaria, ele era um bom patrão.

Eis que começou uma briga. Ossip, assíduo freqüentador, vendo o Fernando, maloqueiro conhecido, se insinuar para uma freguesa, interveio. Cadeiras voaram, copos foram arremessados, gritos histéricos das moças do reservado, Thaís, Alessandra, Larissa, Jimenna, Flávia e Rosália, e o Barman sem saber onde acudir primeiro. Eis que um grito de mulher entoa e todos fazem silêncio: Era Me, a garçonete, atingida por uma garrafa de cerveja na cabeça. A cena parecia congelada.

Todos emudeceram.

-Acertaram a Me. Foi o único som que se ouviu no Bar.

Correram acudir a moça. O sangue jorrava. Seria seu fim? Morrer de uma garrafada num Bar de quinta categoria? O Barman ficou histérico:

-Quem foi o filha da puta que fez isso?

-Esquece disso e estanca o sangue. Disse Leonardo, o segurança que entrara com a gritaria. Pegaram uma toalha e amarraram na cabeça da moça.

-Tem algum médico aqui? Paulão Fardadão, policial assíduo do boteco perguntava aos curiosos.

- Eu ser. Um cara minguado, cor de burro quando foge, cabelos escorridos, parecia descendente de índio brasileiro, todo feinho de dar dó.

-É médico, fera?

-Sou sim, lá na tribo dos Tupiniquins da Amazônia.

-Faz alguma coisa então seu índio de uma figa. O Barman estava descontrolado, sempre presenciava brigas no seu Bar, mas nunca o prejuízo ultrapassava o lucro. Dessa vez sabia, era peça primordial essa garçonete, ia ser a falência se a moça morresse, além de que, seu orgulho de macho estava atacado, afinal todos pensavam que ele a comia depois do expediente e para criar respeito, não desmentia o fato.

-Índio precisa de privacidade, levem moça pro reservado. Vou atendê-la lá.

Levaram a moça e índio se trancou no quarto.

Depois de duas horas saiu com cara de felicidade e disse:

-Moça bem, vai viver.

A garçonete veio logo atrás, toda desalinhada e com um sorriso sem vergonha na cara.Todos se aproximaram para vê-la.

-Deixem moça em paz. Ela precisa de sossego. Agora ser “Lua Morena”, noiva de índio Cavalo Malhado.

-O que?

-Isso mesmo. Moça branca vai pra tribo casar com índio. Tudo muito rápido, igual nuvem de fumaça.

-Que tribo caralho?....

-Desculpa chefinho, eu vou sim, encontrei o amor da minha vida...

Saíram em disparada sob os olhares atônitos de todos.

O faxineiro Kaspa varria os cacos quando reparou na garrafa que tinha acertado a garçonete.

-Que estranho chefe. Essa marca de bebida eu nunca vi por aqui. Cachaça Amazonas.

-Deixa ver. O barman leu no rótulo: Fabricação artesanal da Tribo dos Tupinanquins da Amazônia.