Pai Postiço

Viví 60% da minha vida ao lado de um "pai postiço" - o pai dos meus filhos "postiços" - agora já falecido.

Explicando melhor: nossos filhos foram adotados.

Assim sendo, posso falar de um pai adotivo, com conhecimento de causa.

A pessoa que, sem ter seus próprios filhos, se dispõe a adotar filhos de terceiros (não apenas um para experimentar...) demonstra possuir um espírito especialmente acolhedor. É alguém que conseguiu superar o egoismo natural que todos têm, de querer deixar a SUA marca genética no mundo. Alguém que já renunciou ao sacrossanto desejo de "ser pai biológico".Alguém com maturidade e bom senso.

A dedicação, o sentimento paternal, os cuidados e preocupações, em tudo se assemelham aos demonstrados por pais biológicos. O orgulho de apresentar "os MEUS filhos", de compartilhar seus sucessos e auxiliar a superar seus obstáculos, a vibração ao constatar cada novo avanço, a torcida para que atinjam suas metas - tudo isso permeia o longo convívio, desde a infância, até a idade adulta. Nesta fase as preocupações mudam, já agora relacionadas ao sucesso acadêmico, profissional e afetivo, mas sempre com aquele controle responsável, à distância.

Analisando toda a vida de um "pai adotivo", posso inferir que o grau de realização paternal, atinge picos de altíssima satisfação. O resultado dessa ação continuada é, via de regra, a formação de pessoas conscientes, responsáveis, de alto valor moral e bom preparo cultural, ético e profissional, capazes de interagir de forma produtiva e harmoniosa com seus contemporâneos. A direção segura e amorosa, sem omitir a situação de adoção, afasta possíveis problemas oriundos de uma situação de revolta ou não aceitação do "pai postiço", conseguindo construir uma ligação estreita, de respeito mútuo e de intensa afetividade, dirimindo situações de confronto.

Essa foi uma linda e real história de amor.