Enquanto ele não perceber
A noite está mais fria hoje. Abraço-me na tentativa de aquecer meu corpo, mas é quase impossível, pois a neve está mais densa está noite, apenas se vê o branco em todo lugar. Faço meu percurso de sempre, andando devagar para não cair no gelo escorregadio. Não demora muito e logo chego ao meu destino e lá está ele, em sua rede olhando a rua, como sempre. Nunca me canso de vim aqui toda a noite e admirá-lo. O gato está sobre seu colo. Ele passa os dedos acariciando ao animal, que fecha os olhos e ronrona, e dá um biscoito uma vez ou outra. Depois se levanta e entra, já se o que ele vai fazer. Não sou só eu que faço as mesmas coisas todas as noites. Logo volta com um copo de leite esfumaçando, com uma gota de creme e uma pitada de canela do jeito que ele gosta. Senta-se novamente e saboreia sua bebida enquanto continua a acariciar ao gato. O vento sopra forte e meu corpo estremece. Como queria que ele estivesse ao meu lado, me abraçando, aquecendo-me do frio, mas, como sempre, ele está lá abraçando ao gato, sortudo este. Ele deixa o copo sobre uma mesa que há ali perto, e pega um livro que se encontra no mesmo lugar. Passa quase uma meia hora lendo e depois fecha o livro, leva as coisas para dentro e depois retorna para se certificar de que a casa está trancada, humpf, medroso como sempre. Ele entra e apaga as luzes, a minha festa infelizmente acaba agora, espero até que todas as luzes da casa estejam totalmente apagadas e que não se dê para escutar mais nenhum som. Depois volto meu percurso, volto para minha casa com meu sorriso no rosto, sempre me relaxa observá-lo. Assim que chego faço o mínimo de barulho possível para não acordar ninguém. Subo as escadas em direção ao meu quarto e dispo-me de toda minha roupa. Deito sobre a cama e cubro-me com o cobertor, não demora muito e caio no sono. Os sonhos são os de sempre, ele me abraçando e jurando amor eterno, mas logo acordo e a decepção toma conta de mim. Arrumo-me e desço para tomar o café da manhã, não demoro muito e saiu de casa. A neve se acalmou mais em relação à noite anterior. Faço meu percurso matinal, e logo chego a frente da casa dele. Ele sai e vem em minha direção.
- Bom dia. – Seu sorriso é estonteante.
- Bom dia. – Respondo abobalhado.
- Vamos?
- Vamos!
Mas ele não percebe meu olhar, não percebe que o quero, que o amo. Não digo nada, apenas caminho perdido em meus pensamentos, na esperança que ele um dia, finalmente, perceba o quanto eu o quero. Fico na esperança de uma próxima noite fria, ele esteja em sua varanda, mas não sozinho e sim ao meu lado abraçados e protegidos do frio. Enquanto isso irei me contentar em apenas observá-lo e esperar que ele se dê conta de minha existência, de que o amo não apenas como amigo, mas algo mais. Apenas esperando, quem sabe uma noite dessas ele não me chama para dentro de sua casa