TAMBA-TAJÁ UMA PROVA DE AMOR

Lenda Escrita Por - 
Waldemar Henrique da Costa Pereira
Versada Por Fábio Ribeiro


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Ah! Saudade dos meus velhos tempos de criança
Eu ainda trago muito forte na minha lembrança
Muitos daqueles fragmentos das noites de luar
A criançada reunida no terreiro para ouvi-lo contar

Mesmo com a voz lenta e os movimentos cansados
Nosso Papai Velho narrava cada lenda bonita
Eram estórias contadas por seus antepassados
Sua mente era como uma enciclopédia infinita

E naquela noite estrelada brilhou de novo o narrador
Que nos contou aquela estória tão emocionante
Eu nunca ouvi falar de uma prova tão linda de amor
Essa nossa Amazônia tem cada lenda fascinante!

E ele começou assim:
Há muito tempo nas terras da tribo Macuxi...
 
Havia um jovem índio que era muito respeitado
Ele era um guerreiro muito forte e inteligente
E por todas as donzelas era bastante admirado
Mas aquele destemido coração já tinha pretendente

Ele era apaixonado pela mais bela índia da aldeia
Pela qual todos os índios tinham muitos desejos
Ela tinha grandes virtudes e um encanto de sereia
Qual homem não queria ser o dono de seus beijos?
 
Mas o deus Rudá já tinha traçado deles o destino
A bela índia se apaixonou pelo aquele índio sapiente
Eles logo se casaram e sonhavam em fazer um menino
Mas Infelizmente sua amada não demorou a ficar doente
 
A bela macuxi fora acometida de uma cruel paralisia
E de repente as suas fortes pernas ela não mais sentia
O índio forte e inteligente vendo toda aquela situação
Ficou muito comovido e fez trabalhar a sua imaginação

Ele teceu uma grande tipóia para carregar o seu amor
E a levava a todos os lugares suportando peso e dor
Era uma grande prova daquele sentimento verdadeiro
Mostrando a todos como é doar-se ao outro por inteiro

Ele passou alguns anos carregando a sua amada
Até que um dia ele sentiu a sua carga mais pesada
Ele então desceu a tipóia e começou a desatar o nó
E tomou um susto ao ver que seu amor retornara ao pó

Desde aquele momento a vida para ele tinha acabado
Aquele infeliz baque tinha sido para ele muito forte
A tristeza e a desilusão o deixaram desesperado
Fazendo-o com ele tentasse reescrever a própria sorte

Ele carregou pela ultima vez o corpo de sua companheira
Até conseguir chegar às margens de um lindo igarapé
Colocou-a no chão e começou a sua tarefa derradeira
Cavou um buraco e enterrou-se junto com sua mulher

Passaram-se então várias luas até a lua cheia chegar
E no mesmo local começou a brotar uma planta diferente
Que por todos os macuxis era desconhecida totalmente
Tinha a cor verde escuro brilhante e de forma triangular

Ela sempre traz em seu verso outra folha reduzida
Que muitos acham com a genitália feminina parecida
Os parentes do casal ao encontrarem a planta misteriosa
Entenderem ser um milagre aquela folha tão graciosa

Para eles simboliza a continuidade do Amor e da Vida
Tamba Tajá! Esse foi o nome pelos macuxis instituído
O seu cultivo espalhou-se em toda Amazônia ocidental
Amuleto vivo de “Boa Sorte” e “Proteção” contra o mal

Muitas Amazônidas cultivam essa planta por curiosidade
Atribuindo a ela um poder místico bem interessante
Na casa onde a planta crescer bem viçosa e exuberante
Tendo a folha menor no verso, ali existe amor e fidelidade

Sem a folha reduzida no verso, naquele lar não existe amor
E se por acaso houver mais de uma, é sinal de infidelidade
Sendo assim, que não tenhamos Tamba Tajá de sofredor
E sim somente aquelas que simbolizam a Felicidade!


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Comentários/Agradecimentos:

Esses humildes versos eu dedico ao nosso Papai Velho, que me acompanhou durante a inspiração na construção dessas pequenas quadras. E se Deus permitir, ele estará comigo em todas as futuras lendas que ainda pretendo versar. Como as três lendas (Jurupari, Apurinã e Tucumã,) que são apresentadas no Fest Lendas, Festival Folclórico da nossa terrinha de Novo Aripuanã-Am. Gostaria de mencionar também, a minha gratidão ao Amigo e Mestre Poeta & Tradutor, William Lagos, pela sugestão, incentivo e apoio. Thank you very much Bill!
 
Concluindo sobre o  Papai Velho...
 
Seu nome, Milburges Coutinho Ribeiro, já falecido há muitos anos, que era casada com nossa Mamãe Velha, Ornofina da Conceição Ribeiro, ambos, certamente encontram-se à destra do Nosso Altíssimo Senhor.
 

Papai Velho e Mamãe Velha, era a maneira como todos os seus netos/as, bisnetos/as e tataranetos/as os tratavam. Ele era popularmente conhecido em Novo Aripuanã, pelo carinhoso apelido de Bujinho, e ela pelo não menos terno apelido de Maçica.

Hoje é muito difícil dizer em quantas veias corre o seu sangue, mas muito difícil mesmo, pois OS RIBEIROS que descendem daquelas veias Maranhenses são muitos.
 
 Papai Velho e Mamãe Velha!  Estejam onde vocês estiverem, dentro de mim vocês viveram para sempre.

Vou parar por aqui, por que os olhos desse caboclo já começam aquecer  e o nó na garganta me impede...


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Créditos:
Lenda  Escrita Por:

 
Waldemar Henrique da Costa Pereira
nascimento_verbete.gif 15/2/1905 Belém, PA 
morte_verbete.gif 28/3/1995 Belém, PA


Fontes de Pesquisa e Crédito de Imagem
http://www.cdpara.pa.gov.br/tamba.php
http://www.portalamazonia.com.br/secao/amazoniadeaz/interna.php?id=815
http://www.dicionariompb.com.br/waldemar-henrique/dados-artisticos