Poly
 
       Na memória ainda estão tatuadas as lembranças de sua pequenez, a cabecinha redonda, os dentinhos curtos, os olhinhos faiscantes, as bochechinhas  rosadas, os poucos cabelos, as perninhas e os bracinhos rechonchudos, e a maciez de sua perfumada pele. Quantas palavrinhas ditas de formas erradas, neologismos, garatujas, caretinhas, jeitos e trejeitos, que só você o bebê mais esperto e inteligente do mundo sabia fazer. Lembro-me ainda do seu sorriso meigo, que encantava a todos que estivessem ao seu redor; do choro sofrido e de seus olhinhos vertendo rios de  lágrimas com se você estivesse sentido a maior dor do mundo.  Naquele tempo suas inseguranças, dores e medos, eram quase sempre resolvidos com apertos e beijos, um verdadeiro bálsamo para apaziguar as mazelas do seu pequeno mundinho.
       Onde foi parar a garotinha manhosa que sempre procurava o conforto de meus braços e a proteção do olhar, como se eu pudesse privá-la das experiências não tão boas da vida? Aqueles instantes mágicos em que em seus voos nunca fugia muito ao alcance da vista, sempre retornando do não ido com seus passinhos ainda trôpegos e bracinhos em riste. Como era incrível estender os braços e recebê-la de volta de sua corajosa aventura de três ou quatro passos!
       Agora meus braços se tornaram curtos e já não a alcançam em suas longas jornadas. Começa então a inversão de papéis. Serão teus os braços a amparar tua rebenta. Na metamorfose desta vida a garotinha está próxima a ressurgir no milagre da gestação, pois você ousou-se a multiplicar. Agora chegou sua vez de ser a atriz principal, minha amada filha. Eu serei apenas o mais feliz coadjuvante a deslumbrar e amparar a tua pequena Cecilia!
 
       Kennedy Pimenta 🌶