Furun nº 5

Cagado!

A única palavra para definir o estado atual do Xeréu.

Não bastasse o limite estourado no banco, as duas prestações atrasadas do carro, o vizinho evangélico tocando (e cantando junto) hinos religiosos o dia todo, as briguinhas de praxe(por merreca) com a patroa, pois não é que cismou de pipocar furúnculos no corpo todo?

Não! Foi todos duma vez só, não! Que aí já era caso de desistir e pensar seriamente em suicídio! E o Homi lá de cima não seria cruel a esse ponto, apesar do Xeréu ter comparecido apenas duas vezes na igreja. Uma no batismo – piquititico ainda – a outra no casório – um pouco mais grandinho, mas não menos bobo.

Primeirão na batata da perna direita. Só um calombinho que foi crescendo, crescendo. Dona Pierina do alto dos seus setenta anos bem vividos aconselhando:

- Esse menino precisa dum depurativo forte. Que seu sangue ta sujo!

Tomou? Quinada! “ Lá sou homem de precisar dessas bobages?”

Quem já furunculou nessa vida sabe o quanto o treco é chato. E dolorido.

Fica aquela pelota avermelhada ridícula, dá um febrão de 39,5, a pressão altera pra cima ou pra baixo e neguinho vive futucando. Aperta dum lado, aperta doutro sempre na esperança que aquela gororoba nojenta saia logo e tudo termine.

É aí que dói. Rapais, como dói! A vítima faz uiuiui, aperta a carne em volta ver se acalma. E não é que acalma mesmo? Então faz o quê?Aperta de novo.

Melhor solução? Escaldo. Tasca numa panela velha um pouco de fumo de corda, erva de Santa Maria, sal, alecrim, arruda e ferve. Depois espera amornar e muft,dá um trato no desgranhento.

E pra dormir tasca uma folha de mamona das bravas com erva de Santa Maria misturado com banha de porco , ver se a meleca sai .

Tudo isso ele fez. E resolveu a parada.

Mas nem bem tinha sarado o primogênito, o segundo tava dando seu ar de graça na barriga, pertim do umbigo.

Outro sufoco. Outras dores. Nova fazedura de escaldo. Nova bronca da mãe.Novos xingamentos, que os que tem, não deram.

O terceiro e o quarto vieram juntos, parecendo Cosme e Damião. Perto um do outro, dor repartida no antebraço, um trabalhão dos diabos para apertar, um atrapalhando o outro, mas fraquinhos. Deu muita ziquezira não.

Foi aí que surgiu esplendoroso o quinto. E onde? Onde? Adivinhem!

Como disse o Ditinho na sua peculiar filosofia sacana-paulocoelhana “ essa merda é quinem cearense na Argentina: só procura lugar quentinho!”, não é que fez morada ali entre o cano de esgoto e a fábrica de filhos? Eita lugarzim fiadamãe!

Não dá pra ver quando aperta. Dá vergonha de pedir para os outros verem. E complica tudo. Fez o número 2? Pra limpar é uma desgraça. O jeito é fazer quinem os bichinhas de plantão e lavar com a ducha higiênica ,a patroa metendo bronca. De preferência água bem morninha.

E o trem tava emprenhado! Talvez pelo lugar, talvez pelo azar, falou que deu mole, né?

Resumindo: depois de mil escaldos, andando torto como o Garrincha dos velhos tempos, duas semanas sem frege nenhum, e nadica de nada do Furunhento estourar (tinha até batizado a pelota), parecendo um forno de tanta febre e Dona Pierina falando sem parar, o Xeréu apelou e foi no PS .

Meio sem graça explicou para a médica novinha o problema. Foi para a sala no fundo esperando a enfermeira que mal entrou, trovejou: - Tire a roupa e deite aí! mostrando a cama coberta com o lençol hospitalar.

- Tudo?

Não teve resposta. Então ficou peladão, coberto só por um lençol de pano achado no pé da cama, maldizendo tudo espiando todo assustado e se arrepiando com qualquer barulho de porta até a médica e a enfermeira voltarem,. A segunda segurou o bimbo( mais mole que Maria Mole) pra não atrapalhar a visão, a primeira examinando, toda compenetrada

- Está bem feio. Anestesia para a gente cortar! – falou em voz baixa, o Xeréu mais sem graça que goleiro que levou um frangasso.

O mais difícil foi que pegou duas gozadoras. Trocando risinhos , fazendo piadinhas entre si, ele ali quinem dois de paus, quietinho, quietinho. Perceberam.

- Fica chateado não!- a Doutora Adriana, descobriu depois o nome, murmurou. – Isso acontece com qualquer um. – indicando o furúnculo com o queixo.

- É que é chato. – respondeu :- Eu aqui, peladão, vocês duas mexendo com minhas coisas.

- Leva pelo lado positivo!- e sorrindo: Não é qualquer um que fica nu num quarto com duas mulheres linda como nós e, como você mesmo disse, mexendo nas suas coisas.

..............................................................................

- E o bimbo não deu nenhuma reagida? Perguntou o Ditinho mais tarde, ele ainda andando meio torto. – Que eu conheço a Fulana que te operou(?). Uma gata!

Ao que o Xeréu retrucou mandando bala noutro gole de cerveja no Bar do Canguru – que vamos e venhamos, a doutora tinha recomendado não bebesse nada por causa da anestesia -:

- E tinha jeito? Com aquela dor lazarenta? Mas nem se fosse a Mel Lisboa pelada!

.......................................................

O que ele não sabe- e ninguém teve coragem de contar ainda- é que segundo a crendice popular, furúnculo sempre dá 7 por paetada.

Ainda faltam dois.

A turma ta apostando nalgum outro lugar esdrúxulo.

Não que não gostem dele, que até gostam sim, mas imaginou a gozação se sair algum no saco ou pertinho do rabo?

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

Nickinho
Enviado por Nickinho em 27/08/2008
Código do texto: T1148421