PERSEGUIÇÃO FISCAL

O AÇOUGUEIRO NA MIRA DO FISCAL

Na década de noventa baixou uma fiscalização acirrada em nosso município. Os comerciantes comeram o pão que o diabo amassou. Foi um Deus nos acuda com o rigor de um fiscal de nome Pedro. O homem não perdoava nada. Responsável pela fiscalização nos municípios de nossa região, ele não perdoava ninguém. Acabou ganhando o apelido de Pedro pele, mas em nossa linguagem distorcida e coloquial terminou mesmo sendo Pedro péia. Apelido esse por ter multado uma pobre viúva que sobrevivia vendendo pele de porco torrada, nas ruas de Abaeté. Tentando defender o pão dos filhos, naquela época em que a inflação galopante engolia qualquer receita sem dó nem piedade.
Os açougueiros então passaram maus pedaços com o péia como ficou conhecido. Na época o abate de animais em nossa região era a céu aberto nas fazendas e até no meio das ruas nas portas dos açougues, o que para ele era ilegal. Ele não concordava com esse método, e tentava de toda forma, pegar os infratores no fraga. Como o açougueiro possuía o bloco expedido pela receita estadual, poderia dar entrada na nota fiscal após o abate, ele os perseguia tentando fragá-los abatendo animais na rua, considerando o procedimento irregular.
Certo dia a clientela de um açougueiro meu visinho, aguardava o abate de um suíno aglomerada à porta de seu açougue. Quando perceberam o péia estacionou seu veículo bem defronte ao estabelecimento. Ele mais que depressa empurrou o animal para os fundos de sua residência. O péia não arredou pé. Uma hora depois, o açougueiro mais dois clientes vieram dos fundos trazendo a animal abatido já destrinchado e pronto para ser comercializado. O peia mais que depressa o abordou dizendo que ia multá-lo.
--Vai me multar por quê?
-Por falta de documentação e Por abater o animal em um logradouro publico.
Primeiro eu não abati animal algum em publico você não pode provar isto; em segundo lugar aqui está à guia fiscal, este animal eu recebi de um fazendeiro, que o trouxe abatido hoje de manhã.
Desapontado ele acelerou seu veículo e se foi. Um dos clientes perguntou:
--Uai Zé Banana ocê matou o porco iscundido cumè cocê féis, mode o ome num iscuitá ele gritá?
-infiei ele dentro do tanque d’água matei o bicho afogado dispois sangrei mode iscorrê o sangue. O péia ta pensano qui mim pega mais ieu, sô mais ieu!
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 26/02/2014
Reeditado em 27/02/2014
Código do texto: T4707301
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