AÇOUGUEIRO MAL HUMORADO

Sabemos perfeitamente que profissão é arte, e também um eterno aprendizado não importa qual seja o seu papel profissional na sociedade. Mesmo que se julgue apto a desempenhá-lo, não esqueça que deve estar sempre inovando, ou seja, estudando formas para melhor servir, pois é através desta técnica que surgirão os frutos almejados em sua trajetória profissional. Nos anos oitenta a inflação galopante levou muitos comerciantes ao fracasso.

O vizinho de frente ao meu estabelecimento era um açougueiro turrão e mal humorado, lutava com muitas dificuldades para manter seu negócio de pé. Por ser um homem rude sem qualquer dote intelectual, se revoltou contra tudo e contra todos. Deu baixa na sua inscrição comercial. Com uma faca mais afiada do que navalha botou para correr um fiscal da receita que o aborrecia constantemente. Brigou com o leiturista da Cemig, mandou cortar sua luz, comprou um lampião a gás. Colocou seu freezer à venda.

Penalizado eu o procurei tentando o aconselhar, mas foi em vão o homem estava mesmo decidido. Como era fim de inverno duas ou três semanas seu negocio rompeu sem problema. Eufórico ele me abordou:

Aí num falei cocê, qui num tô mais pra trabaiá pra inchê essa cambada! Se sobrar carne, que ainda num sobrou nem um dia ieu faço carne de sol dela vende do mesmo jeito!

Ao chegar a primavera, mudou a temperatura entrando a fase de calor. O primeiro boi que ele pendurou, seu açougue foi invadido por uma multidão mosquitos. Nervoso e desferindo mil palavrões ela passava o dia na porta com um pano de chão na mão, cercando os mosquitos, chegava um cliente ele ia atender os mosquitos entravam primeiro que ele.

Ele me chamou e disse; sabe duma coisa, cocê ta certo, me compra esse lampião mode ocê usar quando fartá energia, ieu vô mandá ligá a força de novo mode botá as carne no congedô esse trem de trabaiá assim, vai acabá ieu mais minha famìa passano fome, ieu num dô conta de pagá as rêis que ieu compro. num mim sobra nada fico deveno Deus e o mundo.

Certo sô João faça isso mesmo, mas e sua inscrição você não deu baixa nela?

- Ah dei, mais vô trabaiá sem, num vô meche quisso de arruma outra não, se aparece argum abiudo me incheno o saco, minha faca coserva rapano cabelo, ieu mando quarquer fiscal prus inferno já tô fudido mesmo!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 04/03/2014
Código do texto: T4714880
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