TUNINHO BOCAMOLE E O AMOR EXIGENTE

O que aconteceu foi de convidarem o Tuninho Bocamole para uma reunião no Amor Exigente.

Como todos sabem essa associação é excelente na recuperação de viciados ou dependentes.

“Mas eu não tenho vicío nenhum.”

Como não? Voce bebe!

“ Umas pinguinha vez em quando.”

Voce fuma!

“Um maço a cada 3 dias.”

Voce joga!

“Ara! Umas rodada de truco os amigos. Umas caxetinha de 2 reais. Isso lá é vicío?”

Bem, apesar dos retrucos, botou uma roupa melhor, fez a barba de 5 dias, um perfuminho de quebra, uma desodorantada nas axilas , pegou a motoca e foi.

Pós palestra inicial, aquela história dos 13 passos,”o que se ouve aqui, fica por aqui”, os conselhos para se viver melhor, etc, etc, seguiu para um dos 4 grupos – 10 pessoas mais o monitor – numa das salas. Conselhos derramados nos ouvidos foi dada a palavra para os membros.

Agora vou passar a palavra para o próprio Tuninho:

“ Primeiro foi um dona, até bonitinha, que se confessou ninfo total, se o maridão não desse 3 todo dia, dava um jeitin por fora. Imaginem que até o instalador da parabólica , ajeitando o sinal perdido entrou na roda. Metaforicamente falando, é claro!

Depois foi um carinha que contou com todas as letras ser viciado em pedra. Todo dinheiro entrado torrado na mardita. A aliança de casamento trocado por.Olhos vermelhos confessou até ter oferecido a esposa em troca de 10 pedriscos, Só não entregou se o negócio foi concluído ou não.

Em seguida um sujeito cara de normal, bem casado( eu conheço a mulher dele), um casal de adolescentes, que na maior cara de pau falou que tinha desejos homossexuais. Disse que até sonhava algumas vezes se enrolando com alguém bem dotado e só não tinha ido às vias de fato por medo de perder o emprego na repartição.

Vou contar pra vocês, não imaginava que tinha tantos depravados aqui na nossa cidade.”

E na sua vez?

“ Pois é! Quando chegou minha hora de confessar meus podres, contei que só tinha ido de tanto minha cara metade insistir. Então quer dizer que não tem vício nenhum? Perguntou o monitor. Tenho não! Ele então voltou nos mesmos argumentos que minha esposa usara pra mim ir ali. Se bebia. Contei das cachacinhas. Se fumava, indicando o dedo o maço no bolso da camisa. Um maço por semana, menti. Nem precisou, eu contei dos trucos, caxetas e buracos da vida. Mas, nem um viciozinho qualquer? Insistiu.

O silêncio era tanto que juro, deu pra ouvir alguém passando de bicicleta na rua. E olha que a gente tava numa sala uns 15 metros da avenida.

Foi aí que abri.

Na verdade tenho um defeito bem grave, que todos meus amigos insistem que prejudica demais todo mundo.

Que defeito?

A razão do meu apelido. Não agüento sem fofocar. É saber alguma coisa, conto pros outros.

O silêncio ficou maior. Tão grande que deu pra perceber o defeito na catraca da bicicleta – um crec-crec por falta de óleo – voltando.