FUNERAL II

Seis meses depois, ele pensou de superar o fato, mas nas noites que seguiram começou a ter pesadelos, sonhava diariamente com sua perna andando sozinha... até havia disputado-a com o Saci pererê. Esses pesadelos trouxeram-lhe uma nova paranóia: "E se perdesse a outra? Como seria?" Extremamente receoso, enclausurou-se. Evitava ao máximo sair de casa. Só saía quando não tinha jeito.

O medo chegou a tal ponto, que ao invés de providenciar uma boa perna mecânica, pegou suas economias e mandou fazer um colete a prova de bala para sua outra perna. Mas por ironia, seu zelo, foi em vão.

Num certo dia enquanto assistia Tv um automóvel adentrou sua casa e o imprensou na parede, e sua outra perna foi estraçalhada com o impacto.

Apesar de ter sido atendido logo, não tinha jeito, novamente foi necessário amputar. Porém dessa vez, não quis saber de funeral. A idéia de que os vermes comeriam sua perna não era agradável. Também não quis saber de cremar, como um amigo sugerira. Saindo do hospital, foi direto para banca de revista e comprou um livro sobre a culinária Italiana.

Depois de ter lido e relido, decidiu fazer uma lasanha. Não uma comum, essa teria um molho especial, muita pimenta, muito estrato, e uma carne especialíssima: A carne da sua outra perna, moída. Dessa vez, ele mesmo faria o banquete. Os vermes que procurassem outra coisa pra comer.

Anderson Sant Anna Teinassis
Enviado por Anderson Sant Anna Teinassis em 13/03/2008
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