LIVRO INFANTIL: AMIGOS ATÉ O FIM!



Nasceu Alex. Sua mãe ficou muito feliz com o nascimento dele e de outros dois filhotinhos. A família que adotou o cachorrinho Dobermann preto deu-lhe o nome de Alex e o criou com muito carinho. Todos da família gostavam muito dele, principalmente as crianças. Paulinho, Zezinho, Mariazinha e Zildinha acompanharam o seu crescimento. Alex era muito levado e alegre e, conforme o tempo ia passando, crescia, mas continuava brincalhão. Aos poucos, porém, as brincadeiras diminuíam e as crianças foram ficando tristes, porque viam que o bichinho já não era o mesmo e que ia se isolando. Já não pulava, porque lhe doíam as juntas.

O sr. Paulo, pai das crianças, levou Alex ao veterinário. O médico de animais disse que eram reumatismo e dores na coluna. Sim, os animais sentem as mesmas coisas que nós, principalmente os que vivem em contato com o ser humano. Alex tomava remédios regularmente. A dor na coluna era crônica e piorou depois que um dia ele pulou para o quintal do vizinho e levou uma paulada nas costas.

Alex ficava internado para tomar vitaminas. Andava sempre triste, mas tinha o carinho das crianças que, apesar de estarem adolescentes, continuavam apegadas a ele.
O cachorrinho tomava seu banho de sol pelas manhãs e assistia os pombos virem comer e beber perto dele. Era uma alegria para ele. Mesmo debilitado, Alex balançava o rabinho. Os pombos lhe faziam companhia enquanto a comida durava. Mas quando iam embora, Alex reclamava que eles eram mal agradecidos. Porém, no dia seguinte o Dobermann já estava com saudade dos companheiros de asas. E virou costume as visitas, pois todos os dias lá estavam eles na comida e na água.

A saúde de Alex foi piorando. Ele sentia mais dores e tinha dificuldade para se levantar, precisando da ajuda do sr. Paulo. Um dia, durante seu banho de sol, pousou perto de sua cabeça uma pomba branca. Ela estava receosa, devido ao tamanho e a cara feia de Alex. Mesmo assim, puxou assunto com o cachorrão, mal-humorado por causa das dores:


- Por que você está encolhido?


- Estou com frio - disse ele - não me amole, vá procurar sua turma. Não vê que estou tomando sol? Aproveita e faz o mesmo.


- Nem isso eu posso - respondeu a pombinha, tristemente - . As pessoas jogam água em mim, ou qualquer outra coisa que tenham nas mãos. Ai, esses humanos!
- Quero ser sua amiguinha, lhe fazer companhia, para você não ficar solitário. Posso?


- Vou lhe contar um segredo: estou doente de velhice. Nós, animais, somos que nem os humanos, amiga.


- Amiguinho, você não tem cura?


- Não estou só doente, estou velho também.


- Amiguinho, mesmo assim você é feliz. Tem dono, remédio e mais coisas. Eu e minha família não temos nada..


- Aqui sou rei, não fui abandonado, como os meus colegas, que as pessoas largam pelas ruas quando vão se mudar ou descobrem que os bichos precisam de remédios e de tratamento médico. Tenho carinho de todos aqui. Tenho até cobertor!


- Agora fiquei muito triste. Eu e meus companheiros não temos nada. Nem dono, nem lugar pra ficar, comida, nada. Dizem que somos perigosos, que transmitimos doenças. Somos maltratados e só comemos migalhas, que ficam pelo chão, ou milho que alguns humanos nos dão.


- Ouvi dizer que tem gente como vocês que passam fome e andam pelas ruas, como meus colegas cachorros, que morrem de doença causadas pela sede e pela fome.


- Amiguinho, deixe-me ser seu anjo da guarda? Fico ali na casinha, ao seu lado, e a noite me escondo dentro dela.


- Hum... Tá, pode ficar. Agora que já somos amigos, não me sinto mais só. Traga seus companheiros também.


- Que bom que somos miseráveis, que comemos migalhas. Assim não lhe daremos despesas.

- Não se lamente. É feio e só atrai coisas ruins - disse Alex com voz grossa - . Se cada um fizer um pouquinho, isso vai melhorar.


- Quem sabe, quem sabe. Vou levar a idéia aos meus companheiros.


- Veja como vocês são famosos, são de primeira! Estão nos convites de casamentos, nas festas, nas igrejas, nos livros dos humanos. É a pombinha da paz. Hein, hein?


- Tudo hipocrisia, não é nada disso.

 

Os dias foram se passando e Alex, cada vez mais doentinho, se consolava com a companhia da pombinha, que ficava na porta de sua casinha, atenta, como se a qualquer momento ele fosse precisar de socorro. Era muito bonito vê-la, ali, ao lado do cachorro, que dormia.

Ela ficou por ali algum tempo, até que, numa noite, Alex teve um belo sonho: viu-se sendo levado por vários cachorros pequenininhos, alegres, saltitantes, num passeio muito animado. Ele não sentia mais as dores na coluna e nem o frio.
E lá estava a pombinha, ao seu lado, atenta e silenciosa, como se estivesse vendo Alex sendo levado pelos cachorrinhos. Depois que Alex se foi, ela ainda ficou algum tempo ali, pensando na partida do amigo.



       (Publicado em 2004, pela editora H. P. Comunicação)

Lidia Albuquerque
Enviado por Lidia Albuquerque em 20/05/2008
Reeditado em 27/11/2008
Código do texto: T997480
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