Flexibilização Curricular: O que? Como? Para que?*
Wilson Correia
Introdução
A moderna produção do conhecimento cientifico caracteriza-se pela fragmentação e disciplinarização hiperespecializada. Essa constatação fere o entendimento relativo à multidimensionalidade e à complexidade de fenômenos, processos e práticas humanas no mundo, além de engessar numa grade o currículo escolar.
Ora, flexibilizar o currículo requer, pois, que se repense essa lógica da fragmentação pela disciplinaridade, rumo à re-ligação de partes curriculares entre si, e com o todo do currículo, bem como à reforma das mentalidades, tanto quando de nosso modo de fazer educação, nossa práxis.
“O processo de disciplinarização pelo qual passa a construção da ciência moderna traz embutida em si esta afirmação da equivalência entre saber e poder. Dividir o mundo em fragmentos cada vez menores é facilitar o desenvolvimento de tecnologias que possibilitem seu domínio” (GALLO, 1997, p. 118).
É nesse contexto que podemos pensar em termos de “o que”, “como” e “para quê” relativos à flexibilização curricular.
O que flexibilizar?
Os componentes curriculares previstos em um Projeto Político-Pedagógico, os quais se prestam a:
- formar identidades e subjetividades (dimensão ôntica).
- formar sujeitos sociais envolvidos nas questões culturais, produtivas e políticas (dimensão práxica).
Um currículo deve garantir aqueles componentes que formam a identidade. Deve prever a flexibilização de componentes curriculares conexos, correlatos e afins àqueles que são imprescindíveis à formação identitária do homem e da mulher.
Como?
Observando a base legal sobre o assunto:
CF/88: autonomia didático-cientítica, administrativa e de gestão universitária.
LDBEN 9.394/96: a autonomia universitária e a possibilidade de flexibilização.
Plano Nacional de Educação (Lei 10.172 de janeiro de 2001): Prevê diretrizes curriculares que “assegurem a necessária flexibilidade e diversidade nos programas oferecidos pelas diferentes instituições de ensino superior, de forma a melhor atender às necessidades diferenciais de suas clientelas e às peculiaridades das regiões nas quais se inserem”.
Pareceres do CNE N° 776/97 e 583/2001 defendem:
- maior flexibilidade na organização de cursos, de modo a atender à crescente heterogeneidade da formação inicial e as expectativas e interesses dos sujeitos que fazem a educação.
- profunda revisão da tradição que burocratiza cursos e se revela incongruente com as tendências contemporâneas de considerar a boa formação no nível de graduação como uma etapa inicial da formação continuada.
Princípios da Flexibilização:
- Articulação teoria-prática (práxis).
- Ensino-aprendizagem centrado na produtividade dos sujeitos envolvidos.
- Formação integrada à realidade cultural, econômica e social.
- Indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão
- Interdisciplinaridade aberta
- Permeabilidade às informações, conhecimentos, saberes e práticas
- Vistas para uma educação continuada
Para que?
Articular domínio específico, domínio prático e domínio ético com a formação identitária e subjetiva de sujeitos da educação formal.
Romper com a linearidade positivista na produção e organização dos saberes humanos.
Superar o fordismo epistêmico, baseado na especialização estrita, rumo à uma formação híbrida e aberta à articulação entre domínio específico e domínios mais amplos requeridos pela ação humana no mundo.
Para que informações, conhecimentos e saberes sejam vistos na perspectiva da provisoriedade e reconstrução contínuas.
Para se aprender a aprender sozinho e de maneira solidária, cooperativa.
Superar o modelo curricular [GRADE], dando ao estudante o direito de intervir na escolha do percurso curricular e formativo que deseja realizar na universidade.
E para questionar:
Os saberes humanos precisam mesmo ser disciplinares, hierárquicos, sequenciados e artificialmente classificados? Eles ocorrem apenas na sala de aula?
Os saberes humanos precisam mesmo ser disciplinares, hierárquicos, sequenciados e artificialmente classificados? Eles ocorrem apenas na sala de aula?
Bibliografia
GALLO, S. “Conhecimento, transversalidade e educação: para além da interdisciplinaridade”. Impulso, v. 10, n. 21. Piracicaba: Unimep, 1997, p.115-133.
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* Texto-roteiro da palestra proferida no CFP em 30.03.2010.