O total x O específico

A arte da viajosidade, tentando sintetizar um debate.

Bem, isso não vai ser nada poético, e vai ser um pouco ( ou muito) específico, então, meus leitores invisíveis que vem pela poesia, passem para o próximo texto/poesia se não estiverem afim de ler. Aiai, meu "querido diário", hoje tivemos um debate em aula muito interessante. Nosso professor usou do seguinte método: perguntou a cada aluno de minha turma sobre eles, e o que eles vieram fazer no curso de letras.

Após cada um especificar sua área que mais gosta, que tem mais afinidade, interesse (alguns não o fizeram), ele pediu para que fossem feitos grupos relativos a cada área. Surgiram então os grupos: Leitura, Literatura, Gramática, Ensino, Linguística (não respectivamente nessa ordem. Me perdoem os colegas se esqueci algum, acho que não.). Após isso deu 10 minutos para discussão dentro do grupo, e pediu para que fosse aberto um debate onde cada um defendesse a importância maior de sua área escolhida sobre as outras. Disse ele que ocorreu um fato exótico: havia uma pessoa em leitura, a maioria em literatura, duas em ensino, e dois grupos médios em linguística/gramática. E durante o debate, cada grupo discutiu com o outro e defendeu o seu ponto de vista acerca da supremacia de sua área sobre as outras. Me parece que no final, a maioria ficou com a sensação de que, logicamente, todas são interdependentes e importantes, apesar do ego pessoal (ou grupal?) ainda gritar que "o meu é mais importante que o seu". Aonde eu quero chegar com toda a enrolação? No dilema do "total x específico". Houve esse choque no debate. Mas não foi o primeiro que ocorreu. Apelidemos todo o conjunto de conhecimentos do nosso curso de "As letras". Após nos formarmos, estaremos, pelo menos em tese, dominando "As letras". Isso será o total. Após isso, provavelmente já teremos um caminho específico a seguir, verticalizando nosso conhecimento em alguma área especifica das "Letras". Mas isso não já ocorreu sem que percebêssemos? O seu ensino médio/fundamental era um "total". Você quis se especializar no português, para assim dominar "As letras". Para dominar "as letras", você não deixou completamente de lado seu ensino anterior. Você selecionou os elementos do "total" que irão te ajudar a adquirir o conhecimento específico das "letras". Poderíamos afirmar que a essência do nosso debate foi essa. O grupo leitura (grupo de uma pessoa) foi surpreendente, não? Refutou tudo e todos. Cada grupo teve seus prós e contras, mas em opinião pessoal a mais próxima do cheque mate era a que estava jogando sozinha contra todos. Faltou apenas ver a jogada para o cheque mate. O que? A produção de texto. Reflita: Você está sempre lendo (o mundo e o tudo), e a partir dessas leituras, quase sempre produzindo textos. Isso aqui é a produção de um texto. Sua fala é a produção de um texto (oral), os conjuntos de símbolos são textos, carregados de significados, ensinados por textos e repassados através de textos produzidos com os mais diversos fins. A partir desse pressuposto, poderíamos afirmar que, por exemplo, para alguém que irá se especializar em literatura, seu "objeto inicial total" é a leitura do mundo, e seu "objeto final específico" é a literatura/área da literatura na qual o profissional irá trabalhar, analisar. No meio do processo, ele usa todo o conhecimento "das letras" que lhe foi repassado, de todas as áreas que poderão ajudá-lo, e isso ocorrerá também em todas as outras ramificações do curso. Começamos em um específico lugar, terminamos em outro específico lugar, e precisamos do total de objetos contidos "nas letras" para percorrer o trajeto de forma sólida, fundamentada e inteligível até chegar a área de atuação escolhida para se especializar. Cada profissional atuará em sua área específica, porém ele fará, fez, ou está fazendo uso do "total".

Isso também pode ser aplicado no âmbito pessoal, em outras áreas acadêmicas, e em áreas não acadêmicas. Você sempre precisa saber da importância do todo, da relação entre as partes desse todo, e do que são pelo menos as partes básicas que o compõem. Precisa, porém, manter sua individualidade perante o todo, a partir do momento que retira para sua identidade uma parte específica provinda deste. A partir daí vem a especificidade e a diversidade de especificidades, pois para o individual aquela especificidade será a coisa mais importante, onde sua individualidade será melhor aproveitada. Precisamos saber do "geral", do que nos interessa nesse "geral", e se queremos nos aprofundar em uma área específica. Se sim, é preciso ainda defender a sua especificidade com todos os recursos e argumentos possíveis. Estamos sempre no dilema entre total x específico.

P.S.: Relevem o fato de que isso está sendo postado em um blog pessoal, e é um texto parcial. Provavelmente houveram outras visões sobre o debate. Quem sabe mais participantes não aparecem por aqui para dar a sua opinião sobre o nosso dilema do total x específico?