Dor

Meu coração pesado, tão pesado que não consigo me levantar do chão frio e molhado no qual me encontro. A água está sobre mim, quase não a sinto, já não sou dona de meus movimentos. As lágrimas caem sobre minha perna ensanguentada, minha mão já não corresponde, permanece me ferindo freneticamente, os cortes nem são tão fundos, mas são extensos, e ardem até na alma. Um, dois, três, cinco, dez. Dez cortes em cada perna. O sangue escorre, a pele é sensível, isso vai permanecer sangrando por muito tempo. Levanto-me, completamente fraca. O sangue desce pela minha coxa, canela, lambuza meu pé e o chão frio e úmido no qual me encontrava. A água então escorre pelo meu corpo e passa pelos cortes, a dor intensa me faz cair ao chão outra vez, com um leve grito, por culpa da ardência.

Estou, praticamente, toda escarlate, manchada com meu próprio sangue, mas já não me importo. Junto com ele, tenho esperança, a dor irá. Oh, mas ela não vai, sei que não. Mas já não me importo. Já não me importo com mais nada. Com o que eu me importava foi embora, tudo, todos. Já não tenho com que me importar. Eu nunca fui importante o suficiente para me importar comigo.

A ardência não passou, ainda, levanto-me mesmo assim. Dirijo-me até o armário que existe no banheiro, pego qualquer coisa para cobrir os cortes e o sangue não manchar nada, sim, tenho a preocupação de que ninguém note. Não preciso que alguém que não sabe dos meus problemas diga que estou errada. Limpo e guardo a lâmina, com todo o cuidado para não ferir minhas mãos, arrumo todo o cômodo, me arrumo e visto a minha mascara que estampa um sorriso, ninguém pode notar.