A REVIRAVOLTA DA MINHA VIDA

Como definir este momento da minha vida? Eu sinceramente começo a perguntar para mim mesma se há uma palavra em nosso dicionário para dar ênfase a esta situação que me inquieta e que ao mesmo tempo me impulsiona a continuar seguindo e a acreditar que realmente este é o caminho.

Seria tão mais fácil se eu pudesse encontrar uma varinha mágica assim como nos contos de fadas e conseguir realizar os meus desejos mais encantados ou uma bola de cristal para compreender se determinadas decisões seriam certas ou erradas. Talvez esteja aí a graça da vida: o mistério. E a palavra que provavelmente define o meu momento pode ser: recomeço.

Meu Deus! Uma nova página, uma nova visão e novos prodígios. Mas, que me dá certo medo, certa angústia, uma necessidade inquietante dentro de mim, uma vontade de gritar aos quatro cantos da terra a minha descoberta. Sim, uma descoberta incrível saber que mesmo diante de tantas amarras e amarguras que corroboraram para minha tristeza, ao sentimento de humilhação que muitas vezes atravessei ao longo da vida, podem ser simplesmente lançados ao mar do esquecimento e que sim, eu tenho uma nova oportunidade para recomeçar de outra forma.

O sentimento vazio que por muitas vezes atravessou o mais profundo lamaçal de minhas dores, simplesmente pulam dentro de meu ser como flechas que anseiam atravessar a minha alma e eu começo a me questionar o motivo de ter demorado tanto tempo para conseguir me entender, me questionar e isso me deixou se levar por tantos caminhos que somente me instigaram a dor, a ilusão, a angústia, a raiva, ao ódio, a culpa e a tantas amarras negativas. Como eu pude ser tão frágil e como ninguém nunca me ensinou a ser forte no momento em que eu mais precisava desse encontro e dessa fortaleza.

Somente ao contemplar e observar com mais atenção aos acontecimentos centrais da minha vida, percebo que não posso também ser injusta com as travessias ao longo de minha caminhada. Sei que embora diante de tamanho sofrimento sendo levado de forma tão cruel, minha vida também foi construída em jornadas de amor, de paz, de refúgio e de fortaleza. O que muitas vezes eu intitulava como migalhas de amor, que advinham de vários lugares: professores, amigos, familiares; foram trampolins para os grandes saltos que consegui vencer gradualmente ao longo da vida e que de certa forma me deram suporte para atravessar tudo o que passei quando os momentos foram de intensa dor, desespero, raiva e agonia.

Consigo hoje, elaborar com maturidade todo o mal que eu sofri e entender em qual momento fui vítima, em qual momento não fui sábia e em qual momento eu não tinha suporte o suficiente para essa tal sabedoria. Entendi que a sabedoria não é inata, que ela vai se construindo ao longo de toda uma história. Enquanto ser que estava envolvida nas mais diversas situações, não conseguia entrar em contato com essa subjetividade e conectar com meu próprio eu interior e ser sábia o suficiente para erradicar o mal pela raiz, seja o mal da dor, da ilusão, do engano e dos erros. Eu simplesmente nem tinha conhecimento e base o suficiente para defender meu coração e minhas emoções daqueles que detinham certo poder e ênfase sobre minhas emoções. Estes faziam da boa fala, uma passagem para conseguir persuadir minha inocência cor de rosa que ainda era regada com flores.

E hoje, num intenso suspirar e numa vontade intensa de sobrevoar para além de mim mesma, eu posso olhar para tudo o que vivi e a todas as situações e compreender que foram experiências que me tornaram a pessoa que hoje me constituí e que de alguma forma, mesmo diante de tantas barreiras, ainda conseguiu encontrar saída para não morrer asfixiada na dor. Encontrei na poesia a alma, a paz, a luz que me faltava e diante dessa emoção, retornei a vida, ao sonho, ao que um dia eu imaginei ter perdido.

A poesia, inocente que outrora aprendi na adolescência, numa sala de aula, tem sido ao longo de minha trajetória, a minha aliada, amiga e comigo caminha para as montanhas, para os vales e para as estradas mais profundas de minha própria alma. Encontrei também no processo terapêutico caminhos e estruturas para alçar voos nesta caminhada, com cautela, com leveza e com retidão, me unindo a mim mesma numa sintonia de paz e de harmonia, conectando a minha essência a algo maior e mais singelo, me levando ao perdão para comigo mesma e encontrando-me como jovem humana e realmente capaz. Eis a reviravolta da minha vida e o encontro com a minha plenitude humana.

Aliada Solidão
Enviado por Aliada Solidão em 15/04/2016
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