QUERIDO DIÁRIO (SESSÃO DE TERAPIA)

Parece-me um pouco infantil iniciar este texto a partir de um tema aparentemente ultrapassado para muitos. Entretanto, para mim, a escrita de um diário me soa um pouco familiar, pois em toda minha infância e adolescência eu escrevia em diários. Adorava expressar as coisas boas que me tinham acontecido e registrá-las em um papel como se fosse um segredo apenas meu e das folhas. Ao longo dos anos, essas escritas foram a minha única companhia, como uma fuga em que eu tinha, era como um amigo com quem eu conseguia contar todas as minhas questões internas.

Logo mais, descobri que era muito arriscado escrever em diários, pois as pessoas poderiam ler e julgar, rir e até mesmo conhecer profundidades de minha alma das quais eu não estava disposta a contar-lhes ou abrir-lhes. O mais interessante, é que eu sempre reclamei e o faço ainda hoje, é da solidão com que me conserva a vida, mas no fundo eu não a quero perder. Sinto que a solidão ao mesmo tempo em que se torna algo melancólica e exaustiva, ela é também meu refrigério, minha calma e minha luz para seguir na jornada da vida.

Então, a saída para minha escrita, foi à descoberta da poesia que eu descobri que além de escrever, eu poderia repassar isso ao mundo. Então, assim comecei os meus primeiros rabiscos poéticos que no início eram um pouco tímidos, mas que ao longo dos anos tornaram-se minha base de sobrevivência, minha paz, minha luta para um encontro comigo mesma e com a vida que me cerca.

Após relatar um pouco os motivos do título desse pensamento que provavelmente virão outros parecidos, quero ressaltar que hoje eu acordei angustiada, receosa e com certo medo dos desafios que a vida está a me apresentar. Mas, fui à terapia. Aliás, essa foi uma das melhores escolhas que fiz na vida. Comecei há cerca de dois anos com uma psicóloga muito inteligente, capaz e competente, que me ajudava em diversas questões da vida, primeiro com meus alunos, com minhas dúvidas enquanto professora depois com meus pais e como lidar com eles, depois nas minhas questões do mestrado. Entretanto, o vínculo que eu estabeleci com ela foi uma transferência de amizade, que lógico que ela não retribuiu, ela foi extremamente profissional. Mas, há dois pontos que me fizeram desistir da terapia naquele momento: o primeiro foi porque eu não conseguia mais falar nas sessões, por ter vergonha, como se eu estivesse conversando com uma colega de faculdade; agindo dessa forma, ela falava muito mais do que eu e eu não achei que esse caminho seria válido para mim, pois não estava me ajudando. Outro ponto foi que percebi que ao relatar a ela meus assuntos e particularidades referentes ao Mestrado, ela pouco conseguia me ajudar. Então, resolvi ser sincera e parar o tratamento, afirmando que eu havia feito essa transferência de amizade e que eu não conseguia mais falar nada em terapia. Conversamos e encerramos as sessões por ali. Entretanto, há cerca de quase três meses, iniciei uma terapia com uma psicóloga que estuda na mesma faculdade em que faço mestrado. Ela faz doutorado e lógico, por muitas vezes nos encontramos nos corredores da faculdade ou trocamos algumas palavras. Mas, tanto ela quanto eu, não achamos nenhum impedimento ou falta de ética ela me atender, pois não somos amigas e nem os meus contatos próximos são amigos dela. Dessa forma, seguimos numa dinâmica de tratamento muito incrível.

Como eu disse anteriormente, hoje foi um dia em que separei para ir à sessão de terapia e relatei muitas das minhas angústias. Eu fiquei impressionada que quando eu olhei no relógio, faltavam apenas dez minutos para acabar a sessão. Meu Deus! Eu falei por quase uma hora sem parar e nem me dei conta disso! Eu “lavei a minha alma” como muitos dizem. Eu sinto confiança nesta terapeuta a ponto de desnudar a minha alma como eu acredito que eu nunca tinha feito antes, mesmo em sessão de terapia. Eu estou pronta para uma nova fase: crescimento. Mas, eu também sinto que isso tem feito com que as minhas confusões internas se tornem alarmantes e gigantescas dentro de mim. Hoje, ela pontuou para mim diversos pontos em que me vê crescendo, sendo autônoma e tendo certeza. Disse-me que eu preciso parar de diminuir-me frente à propriedade das palavras das pessoas. Seria fantástico se todas as pessoas que eu conheço pudessem fazer terapia. O mundo seria melhor e melhor seriam as almas das pessoas.

Estou feliz, angustiada também; entretanto, carregando uma esperança, uma longanimidade e um novo respirar tão puro, sereno, tão diferente que eu só posso mesmo é somente agradecer a Deus por essa oportunidade que Ele me concede para ir ao encontro de mim mesma, algo que por muitas vezes eu não conseguia enxergar. A vida às vezes é cheia de espinhos e espaços tão complicados que nem sempre vemos uma luz no fim do túnel e eu já consigo enxergar a minha vida com essa luz.

Ah, os psicólogos deveriam ir todos para o Céu! É impressionante o que eles nos permitem ser e o que nos permitem enxergar ao longo das sessões. Não posso esquecer-me de que foi a terapeuta que me sugeriu a escrita de um diário virtual, pois ela sabe que eu adoro escrever e adoro poesias. Aceitei, só se eu pudesse escrever de forma anônima. Então, aqui estou, intacta, desnudada em minha essência e escrita, porém, preservando minha identidade. O mistério que tanto admiro, paira sobre minha vida.

Aliada Solidão
Enviado por Aliada Solidão em 20/04/2016
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