QUERIDO DIÁRIO (CONFESSO)

Querido diário (virtual), hoje é quarta-feira e nos últimos meses, este dia da semana tem sido muito especial para mim. Há muitos motivos, mas o principal deles é que eu tenho um encontro marcado com minha terapeuta. De certa forma, parece que todos os dias da semana eu espero ansiosamente por estes momentos em seu consultório. E é interessante que, justamente às quartas-feiras eu tenho acordado mais cedo que o meu despertador, exatamente às cinco horas da manhã e fico a pensar a minha vida. Claro que, ao sair do consultório, eu faço as minhas reflexões durante toda a semana, para possíveis mudanças e algumas elaborações intensas das quais são faladas na terapia.

Neste sentido, quero hoje aqui relatar o motivo da minha insônia na madrugada fria deste dia. (Ao leitor, peço que cuidadosamente me leia e interaja comigo em meus profundos pensamentos e se permita viajar e de alguma forma ser o afago que tanto preciso).

Comecei a relembrar de um livro que eu tive o grande privilégio de ler nos tempos da graduação, há cerca de seis anos. O nome do livro é “Comer, rezar, amar”, da autora Elizabeth Gilbert. Em síntese, o livro fala sobre um ano de viagem que a autora decidiu fazer após um traumático divórcio. Ela já era uma escritora famosa e se afastou de seu cotidiano, para novas descobertas de si mesma. Visitou a Índia, a Indonésia e a Itália. Durante essas viagens, ela aprendeu a importância da comida, da espiritualidade e o que de fato é amar e ser amada. Ela fez muitas reflexões acerca de seu próprio “eu” interior e redescobriu como ser humano. O livro é realmente fantástico, nos permite entrar neste mundo da autora, que ora nos faz rir, ora chorar.

Diante das perspectivas abordadas sobre este livro, hoje me deparei com a seguinte questão: “ Eu não deveria estar vivendo meu próprio comer, rezar, amar”? Em síntese: O que eu tenho feito com a minha vida? Será que estou no caminho certo? Em que lugar minhas escolhas me levarão? Então, diante dessa reflexão, preciso confessar algumas coisas ao longo dessas breves linhas nesse diário.

Confesso que tenho medo do passado, do presente e do futuro. Há algumas sombras passadas que me atormentam, que me assolam, que me deixam a esquiva de meu próprio caminho e que eu realmente preciso de apoio e ajuda, de repente não só da terapia, mas das entranhas da minha alma. E o presente? O que eu tenho feito com ele? Como proceder? Como ser adulta? O que é ser adulta? O que é abrir caminhos para trilhar neste mundo em que as escolhas são minhas e de mais ninguém? Embora eu não queira pessoas me apontando os dedos e nem me aprisionando, a vida parecia mais fácil quando alguém me apontava o caminho e agora me vejo tão sozinha, uma formiga nessa multidão de pessoas. E o futuro? Meu Deus! Será que algum dia eu terei a oportunidade de amar? De ser amada? E os meus filhos ao redor da mesa ceando e fazendo os cultos familiares? Será que um dia terei a oportunidade de ser mãe? Meu Deus! Fico imaginando nomes, o jeitinho de cada um deles, o crescimento e contemplar o sorriso de um ser que nascerá de mim. Mas, com este pensamento, eu preciso fazer mais uma confissão da qual espero ser compreendida por este breve diário que tem sido minha luz após minha terapeuta e lógico, Deus, que é meu apoio e tem me ajudado em todas as minhas decisões e em algum momento me libertará de todas essas amarras.

Eu confesso que tenho medo dos relacionamentos, medo da sexualidade, medo de não suprir a expectativa do meu companheiro, medo de sentir esse prazer que tanto é falado, que tanto é motivado pela sociedade desde sempre. E então, alguém pode me perguntar ao ler estas linhas: Mas, você é um ser humano normal e sente prazer. E eu responderei que sim. Tenho certa curiosidade e sim, tenho medo de que este prazer seja maior que meu medo. Será que Freud explica? Não sei. O que posso afirmar é que este medo tem me impedido de ser feliz, de cultivar relacionamentos e de pensar até na possibilidade de um dia ser mãe.

Meu Deus! E se eu não perder esse medo? O que vai ser de mim? O que vai ser do meu futuro? Não quero pensar na possibilidade de ser uma Doutora em Psicologia Educacional totalmente feliz profissionalmente e frustrada como pessoa, como ser humano. Não há sentido em ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma, já diz a Bíblia Sagrada. De que adianta, eu escrever poesias maravilhosas, ler com eloquência, conseguir ter vários títulos e ser bem sucedida se eu não construir uma raiz sólida? Eu quero minha própria família.

Confesso! Sinto-me sozinha, sem um horizonte e ainda que eu raramente esteja realmente longe da presença de pessoas, a única pessoa que eu sinto que de fato está presente em minha vida, que me ouve e que me inspira confiança é a minha terapeuta. Não posso falar abertamente para todas as pessoas os meus medos mais internos e intensos. Não posso confessar que, ainda que eu seja uma profissional bem sucedida e aparentemente eu consiga lidar com todas essas coisas de maneira tranquila, somente Deus e a minha terapeuta é quem sabem o quanto tem sido difícil esse equilíbrio em minha vida.

Confesso! Nasci para ser uma excelente profissional, bem sucedida, não fujo de desafios embora eu tenha medos, receios, inseguranças, que eu penso serem normais no ser humano. E confesso que eu estou elaborando isso tudo em terapia, pois o mais interessante é que eu sempre permito que as pessoas errem, mas nunca me permitia errar e, lógico, já errei muito na vida. Então, estou em um processo de auto perdão para comigo mesma.

E, por fim, a minha maior confissão é que muito mais que ser uma profissional bem sucedida, eu almejo, anseio, quero por demais, SER MÃE e ESPOSA. Claro, que não quero ser Amélia, omissa, carregar pesos entre outras coisas de casamentos frustrados. Mas, como ser tudo isso com todos os medos descritos acima? Por hoje é só. E entre lágrimas, escrevo essas linhas EU CONFESSO! Preciso de afeto, carinho e menos julgamentos. Eu confesso!

Aliada Solidão
Enviado por Aliada Solidão em 27/04/2016
Código do texto: T5618439
Classificação de conteúdo: seguro