QUERIDO DIÁRIO (ENCONTROS E DESENCONTROS)

Querido diário, hoje o dia amanheceu ensolarado em São Paulo, mas o frio ainda é uma realidade, tanto que não é possível ficar sem blusa e cobertores nessa manhã de domingo.

Acordei muito cedo, embora eu tenha ido dormir já de madrugada. Não consegui ter um sono calmo e profundo. Fiquei a pensar em meu avô que faleceu na madrugada de sexta-feira.

Lembrei-me da infância quando minhas irmãs e eu íamos passar as férias no Nordeste para visitá-lo juntamente com minha avó. Ele foi um exemplo de caráter, honestidade. Um patriarca. Carrego o sobrenome do qual me orgulho muito. Meu avô foi um homem de fé.

Ontem a noite, estive a conversar com minha tia que cuidava dele. Ela disse-me que ele morreu dormindo. Foi uma morte natural e tranquila para uma pessoa de noventa e seis anos de idade. Ele tinha Alzheimer. Era o único problema de saúde que tinha.

Lembro que com mais de noventa anos, ele ainda andava sozinho para todos os lugares e ainda andava à cavalo para a sua fazenda. Sua morte foi algo natural, diria que um estágio natural da vida.

Essa é a história de hoje. Nessa vida há muitos encontros e desencontros. Há chegadas e há partidas. Precisamos nesse meio tempo, marcar a nossa trajetória. É necessário compreender que a vida é apenas uma passagem, um caminho de lutas, alegrias e aprendizados para voltarmos ao Plano Espiritual.

E, para hoje, quero somente ter a compreensão de que tudo passa e que somente o amor é eterno. Não consigo entender porque não chorei a morte de meu avô. Não sou uma pessoa fria, nem ruim (eu acho). Sinto uma dor interna, uma angústia; mas se quer lágrimas vem aos meus olhos. Minha terapeuta informou-me que para sentir a dor do luto não precisa necessariamente chorar. Acho que eu concordo com ela, pois dói muito, entretanto, não é uma dor de desespero. E no fundo, sinto aquele alívio que a principio pode parecer egoísta: ele descansou e também dará descanso para a minha tia que há anos cuidava dele. O alívio que sinto é de que ele está agora nos braços de Deus e a minha esperança de um dia encontrá-lo é o que me conforta para não chorar.

Talvez eu chore sua morte. Mas, hoje, ainda não quero chorar. Só lembrar...

Aliada Solidão
Enviado por Aliada Solidão em 01/05/2016
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