Poesia x sentimento real

A poesia, por ser constituída de material etéreo, nos permite vagar, largamente, entre o real e o imaginário.

Ontem alguém me disse que poesias seriam a fonte para jorrar todo sentimento, feliz ou doloroso que vai no coração.

Argumentei que nem sempre a poesia reflete um estado de alma verdadeiro.

Vezes há em que, através da escrita, tecemos um mundo que gostaríamos, fosse real, mas que, em nada se parece com o que estamos sentindo naquele momento.

Esse é o grande lance do poeta: fazer o leitor acreditar numa miragem, seguindo o seu desenrolar cheio de nuances multicores - enquanto o poeta, através dessa miragem, abandona seu mundo sombrio e alça vôos em busca do reequilíbrio, através de emoções mais ousadas, desprendendo-se do árduo peso da sua triste realidade.

Por outro lado, sua inspiração o conduz a expressar doloridos sentimentos, retratos fictícios de situações não vividas, de lágrimas não choradas e de íntimos dramas, que traçam suas teias na fértil criação poética.

Importa que o leitor encontre, numa ou noutra situação, paralelo com o seu próprio sentir e busque na poesia um anteparo para suas próprias emoções. E que o poeta reencontre a paz interior, que o torna apto a de criar grandes ou pequenas obras, capazes de dar mais cor e sabor ao, por vezes insípido, mundo real.