Daqui eu vejo o que não quero ver.

Daqui eu vejo sonhos e borboletas mortas

Vejo queimar no fogo desse inferno solitário,

Um coração vertendo as lágrimas de um otário,

Vejo queimar meu pobre coração incendiário.

Daqui de onde se vê sonhos e borboletas mortas

Vê-se também uma alma decrépita e amargurada

Uma amarga alma louca e desfigurada

Uma daquelas almas de qualquer história

Daquelas que já perderam toda a sua glória.

Daqui eu vejo as lagrimas tristes de um querubim

Com asas baixas e olhos fixos em sua taça de vinho

Com asas baixas e cobrindo o corpo de sua amada com linho.

Daqui de onde se vê as lagrima tristes de um querubim

Vê-se também a tortura insistente de um escravo

Tortura tal que me deixa escandalizadamente frustrado

Tortura tal que me lembra de mim.

Daqui eu vejo os olhos fundos e aterrados de uma mãe

E em seu colo vejo um cadáver deitado

E vejo atônito corpo ossudo e velho de tal triste mãe

Chorar e ninar freneticamente seu cadáver mutilado.

Daqui de onde se vê os olhos fundos e aterrados de uma mãe

Vê-se também alguém que desistiu de insistir em viver

Alguém que suas vísceras corajosamente arrancou

Cansando de por uma boba historia de amor sofrer.

Daqui eu vejo o ranger sinuoso dos seus dentes

Procurando sua próxima vitima inocente

Querendo dissipar esse seu veneno infectado

No corpo presente de quem você vem amado.

E daqui de onde eu vejo o ranger sinuoso dos seus dentes

Me conformo em vegetar nessa neblina espessa,

Me conformo em me tornar tranças dos planos de sua cabeça

Me conformo em ser um dos seus atos incongruentes.

Santiago Belmont
Enviado por Santiago Belmont em 28/01/2008
Código do texto: T836212