O fingidor

Se alguém usa a forma poética para se expressar

não vá cair na vala comum dos que

acriticamente se entregam a acreditar

Negando ele pode fazer uma afirmação

e assertivo ele pode uma negativa perpetrar

O não para ele foi feito pra dizer sim

O sim para ele foi cunhado para negar

Se o cientista e o filósofo buscam a verdade

quem poetiza não precisa ser coerente e fiel

ele pode fingir o que sente e dizer tudo de outrem

tudo como se fosse apropriadamente seu

Por isso, sorrindo ele pode tecer o texto-lágrima

chorando ele pode fazer o discurso sorrir

Aqui vale a sensibilidade e a empatia

para o que de tão do outro que é

algo pessoal o que dele o faria

seja no fugaz instante de um segundo

ou no duradouro eterno de cada dia

Sua escrita diz sim e diz não à biografia

e nem tudo o que escreve ele está a viver

mas escrevendo ele vive profundamente

o que não experimenta nem irá conhecer

Por isso não se esqueça:

você está face-a-face com um fingidor

ele é capaz do que você nem desconfia

não se esqueça, leitor ou leitora:

você está diante da poesia