"Sou Malazarte"

"...Tenho pena dos que imaginam que podem derrubar-me com uma traição.

Sou como um capoeira, sei cair no chão e pular pro ar.

Sei voar para os que acham que podem puxar o meu tapete.

Sou ramalhete de flores em sua despedida.

Sei muito bem a hora de chegar e de partida.

Sou bola de fogo e espinho que eles tem que engolir.

Sou a dura palavra num largo sorriso.

Aquele que pode envergar e não quebra por ser macio.

O que sabe acolher mas, também sabe expulsar.

O que empunha espada em defesa do bem e usa o escudo para se defender do mal.

Sou o sal e o açúcar na medida e vinagre na sopa dos que adoram uma colher de sopa.

Sou o que é descrente na Fé cega.

O que tem Fé na foça dos encantados e no socorro do altíssimo aos desesperados.

Estou em todo canto e posso estar em canto nenhum.

Quando penso que sei tudo descubro que nada sei e quando esperam que eu não sei ai é que eu sei tudo.

As vezes vampiro, as vezes lobo.

Um menestrel, um poeta, um bobo.

Sou tudo isso e muito mais!

Mas, de uma coisa não sou capaz de desejar desgraça ao meu semelhante.

Não vejo nele inimigo ou concorrente, pois não vendo carro usado ou pasta de dente.

A ele eu desejo luz e graça, para que só de pirraça a tramoia que ele me armou. Ele veja de pé a minha Vitória.

Tendo como estandarte o meu Cristo Salvador..."

(" Sou Malazarte", by Carlos Ventura)