## Olhar ##

Cá de cima

observo o mundo,

num ruir profundo.

Pássaros anunciam

céus de agonias,

sobre Terra,

viúva dos homens,

sobre trevas,

d'ingratos filhos

saídos dos trilhos.

Incapazes criaturas,

calaram nobres desejos,

pularam estações,

fecharam os olhos às lições.

Fúteis, fracas, enfadonhas,

miseráveis, tristonhas...

Riscaram de sangue a história do mundo,

cavaram abismos de lamaçal profundo.

Cá de cima observo a dor dos fiéis servos do amor,

suspensos em vida,

prévio luto como fruto cegueira da alma.

Cá de cima leio memórias escritas em sangue, assinadas pelos covardes.

Livro sem título

d'um mundo interrompido pelas farsas.

Cá de cima temo

pelos paliativos, pelos inativos e orfandade generalizada.

Cá de cima saudades

do mundo que se preparou para ser,

mas que o não ser dos homens conseguiu ceifar.

TACIANA VALENÇA
Enviado por TACIANA VALENÇA em 09/06/2020
Código do texto: T6972451
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