RUDE SOLIDÃO

Vida! Que farsa me ronda!

No mar, que louco escarcéu!

Que doida fúria me sonda

Em raios que vêm do céu?

Pelos percalços da Terra

Ruge no pico da serra.

Parte o chão na grande China,

Aterroriza o Ceará,

Tanto abalo que alucina

Coisa mais triste não há.

Que nuvens negras estranhas

Afundam pelas entranhas,

Esconde astros na amplidão?

E enquanto estronda o trovão

Grita a hiena nas montanhas

E desaba a escuridão.

É noite... O céu escurece;

O nauta faz sua prece

No abismo de ondas no mar.

O céu chora um triste pranto

Pranto de chuva a alagar

Os sítios do campo santo.

Eu que no peito ainda guardo

Um coração – triste bardo! –

Como um pêndulo bisonho.

Na escuridão dos meus dias

Não consigo nem em sonho

O carrossel de heresias

Esquecer... Rito medonho!

Ó vida, esquece a razão...

Muda o mundo ou mudo eu.

O tribunal tão plebeu

Condenou-me sem perdão.

Sou inocente... E sou réu

Sem cometer uma ação

Condenada pelo céu!

Ó astro-rei, ó lindo sol,

Escurece tua luz

Mostra a verdade de escol.

Manda o frio e a escuridão,

Ensina aos sem coração

Que a injustiça é negra cruz...

Que injustiçou o Messias

Injustiçou os meus dias...

Na mais rude solidão!...

Lucan
Enviado por Lucan em 23/05/2008
Código do texto: T1001890