QUANTAS VEZES... ZÉ FULANO?

Quantas vezes, Zé Fulano,

pelas ruas tu dormiste?

Quantas vezes ficou triste,

por não ter o que querias?

Quantas vezes chorarias

a falta do que comer,

a falta de bem-querer...

quantas vezes, Zé Fulano?

Quantas vezes guri taura,

sofreste tua má sorte?

Quantas vezes vistes a morte,

estampada a tua frente?

Quantas vezes passou gente

correndo sem te olhar,

desprezando o teu penar...

quantas vezes, Zé Fulano?

Quantos Natais sem presentes

e “Reveillons” sem carinhos,

sem ao menos um pouquinho

de amor pra partilhar?

Quanto tempo vai passar

daqui para o teu futuro,

comendo o pão velho e duro...

quantas vezes, Zé Fulano?

Quantas vezes desfraldastes,

panos rotos pelas ruas?

Pra cobrir a carne nua

vergonha da sociedade,

mas que não teve piedade

de te jogar pelo mundo,

e te chamar vagabundo...

quantas vezes, Zé Fulano?

Quantas vezes piá alarife,

tu vais brincar de viver?

Quantas vezes vais comer

o pão que o diabo amassou?

E por esmola tu aceitou

pra matar a tua fome;

E vais dar perdão ao homem...

Quantas vezes, Zé Fulano?

Quantas vezes, vou ver Zé?

Pelos becos do meu pago,

sem amor, sem afago,

sem um lar e sem carinho,

morrendo bem de mansinho

sem ao menos a comida.

Em outro corpo, volta à vida...

quantas vezes, Zé Fulano

Seu Jorge
Enviado por Seu Jorge em 01/06/2007
Código do texto: T509117