MINHAS PREFERIDAS
OPINIÃO PRÓPRIA.
Perguntei ao sol
o que ele acha da lua.
Perguntei a noite
o que ela acha do dia
Perguntei as costa
o que ela do chicote.
Perguntei ao fim
o que ele acha da separação.
Perguntei a saudade
o que ela acha da partida
Perguntei ao punhal
o que ele acha da ferida.
Todos disseram que não
tinham opinião formada
naquele momento.
T(vejo) na tv
1- a tv me vê...
imita meu cotidiano
aprende comigo
usa o que eu uso.
2- a tv quer ser eu...
anuncia o meu refrigerante
compra o meu jeans
copia meu penteado
rouba meu feriado.
3- olhar de vidro
vidrado nos meus olhos
desenhos desanimados
desenhado nos meus traços
4- sociedade desalojada
apedrejadas pelo consumo.
5 - a tv de frente pra mim
a tv desliga-me
tira-me do ar
sai pra almoçar
espirra sangue
no meu jantar.
renascer
computada toda dor
resolvida as querelas
sanadas as seqüelas
estabilizada a corrente
estancada a sangria
depilado o excesso
compilado os extremos
benzido o azar
pago o jantar
negada a gorjeta
chamado o taxi.
nada mais para fazer?
perde-se a razão
volta-se ao útero
afoga-se aminioticamente
suicida-se
chora
de
cabeça
para
baixo
nasce.
Viagens
1. o apito do trem
parou na estação
do meu ouvido
ouviu minha história
e partiu-se triste
em dois.
2 - a jangada entrou
no azul do mar
de lágrimas
dos meus olhos
ouviu minha
história e naufragou.
3- o avião perseguiu
estrelas no céu
da minha boca
bateu a barreira do
som das minhas cordas vocais
e, sem ouvir a minha
história, explodiu.
AFUGA.
Após a porta
vem o nada o acaso.
O eu...
Depois da porta
Vem a liberdade, a cidade.
O eu...
Depois da porta aberta
Vem o sonho, o sono a fome
O eu...
Sempre eu depois da porta.
Depois d’eu o criador.
Ele o culpado
eu a vítima.
Rum.
O pescador sai
sem rum(o)
pro mar
lança seu olhar
no azul
que aprendeu
a(mar)
pesca dor
e pesca a mágoa
de querer voltar.
se há folga
na beira mar
ele se afoga
prá não voltar.
lança sua rede
de uma à outra
estrela do mar
e descansa
no ba( r )lanço
que vai te
embriagar.
PROSTITUAS DE CABEDELOS.
A alma tatuada
no corpo
do marinheiro
finge ser feliz
e se expõe
de fora pra dentro,
na embriagues das
frestas do (in)consciente
cego que olha
no mágico olho
da porta visceral
das inverdades
balbuciadas nos ouvidos
das fugazes,
horizontais e
naufragadas
prostitutas
do porto
de cabedelo.
O BEIJO.
Os lábios
unem-se
aos lábios,
beijam-se
e
se afastam
para dizer
nos ouvidos
desgraçados
as mentiras
que unem
os casais
noites
a fio
até que a
verdade os separem.
Eterno é ...
Ghandi olhou
a paz pela
luz de um farol
que alguém
deixou
escapar
e foi colhido, num descuido
da embriagues,
da rapidez,
da impunidade que chamam
culposo que não fere menos.
que o doloso,
e ali, perdeu uma guerra
que nunca
pensou
em travar.
No asfalto o
sangue derramado
suja
os sonhos e
as esperanças,
projetando na carne viva as chapas
anotadas e reveladas
da impunidade...
E o mar, que tudo viu,
não era mais do que
uma lágrima
para a mágoa
dos que o amavam.
amor burocrata
1- no escritório
do nosso quarto,
mergulho
na burocracia
do amor.
2 - arranco
todas suas vias
de roupa,
imprimo
meu desejo
no papel carbono
do seu corpo nu.
1. molho a língua
na tinta da sua boca,
carimbo seu rosto
com úmidos beijos
azuis
digito palavras
obscenas nas teclas
dos teus seios.
5 - arrancos os grampos
dos seus cabelos
persianos , deixando-os cair
como um final
de expediente.
6 - deito-te sobre o
lençol de borracha
para, no mata-borrão
de estrelas,
te encaminhar ao
jardim de Eros.
Eu e o mar de ressaca.
Que vantagem há
em curtir ressaca
junto com você,
amigo mar?
1 - as sereias
cantam um canto
de morte.
2 - as ondas levam
e trazem aos berros,
fuxicos de pescador.
3 - o vento frio
chicoteia a gente com
cheiro de cerveja quente.
4 - a areia nos entra
bunda adentro
5 - as prostitutas do cais
chamam-nos de
desgraçados,
revelam, carne viva,
nossos segredos fatais,
remetem-nos
de volta ao copo de
cachaça, nos negam
um maldito cigarros que, ao vento,
queima tão rápido quanto elas.
6 - e a lua, cheia de nós, é
um grande
sonrisal que vai
se afastando
recusando-se a nos curar
desta ressaca.
Reformas
Sabem os fazendeiros
que os filhos de posseiros
quase não têm rostos,
quase não dão passos
e quando dão
quase não deixam
rastro.
São sombras
que se assombram
com a terra que se
perde no horizonte.
São réstias
do que resta
sobre a fresta
das sua costelas
amargas.
POR DENTRO.
Como sou eu por dentro?
Por fora o imenso
e barulhento silêncio
acorda a minha inocência...
Por dentro a solidão
ofusca o meu
ser inconsciente
e doma a ferro
quente o meu
grito silencioso.
Por dentro sou apenas
uma fugitiva figura
tatuada nos campos retóricos.
Sou caminhos sem volta
sou estradas e círculos.
Por dentro sou um abnegado
soldado que atira
imprudentemente no
inimigo num invisível
que tem o meu rosto.
Por dentro sou fugitivo,
negro acorrentado
num abstrato pelourinho
cantando canções de liberdade
dançando passos de autodefesa.
Por dentro sou magro e feio
igual a você.
Sou choro e solidão,
pago companhia
para enxugar minhas lágrimas
nas noites intermináveis
de atraso da augusta companheira.
Por dentro sou vencido
sou desconhecido
sou batalha final.
Angustia coesistente
com om meu eu externo
que as vezes até sorrir.
PONTA DO SEIXAS.
Alí o mar
pari o sol mais cedo.
Desova o eterno
astro, deixando
almas pasmas de
emoção e medo.
por saberem
que quem o sol mais
cedo ver mais cedo a terra
o terá.
Dar a luz o mar,
a um astro de brilho e luz
de réstias e cores que
revela folhas e flores.
Os seus raios solares
chocam-se com paredes
de concreto deixando
a natureza nervosa
vento forte que move dunas
deixando nervosa as águas
que surram rochedos e falésias.
A beleza é abstrata
e se nega aos edifícios de concreto
ANGUSTIA I
Há água na lua
Há tecnologia para busca-la.
Ontem faltou água na minha rua!
A ciência, vencida por uma célula,
Se contrapõe a minha dor
Naves pousam em estéreos planetas
E um Deus controverso
Se diz uno e verso
A mão cianótica
Repousa em minha mão quente
Revelando quão sou impotente.
A minha alma robótica
Esfria meu corpo
Tecnológico
Clonado de uma célula doente.
Não posso acreditar
Que não haja, escondido
n’alguma proveta,
A cura do pêssego.
Cofres acrescidos
Esbarrotam-se
Na angustia dos vencidos
Pela célula degenerada.
Na flácida mão
em minha mão,
Meus filhos lamentam
Haver água na lua
Enquanto morre na contramão
Da ciência
A mão que lhes conduziriam
Por estas ruas.
Nessa madruga
Fomos decrescidos
Em cinqüenta por cento.
Uma célula nos venceu
Mas, há água na lua
E um Deus as avesso
Se diz universo.
Não me importa mais
Se há água na lua.
CÂNCER
Era uma madrugada qualquer
Véspera de uma manhã
Igual a tantas outras.
Os Pardais fariam algazarras
No fio.
Alguém tentaria reconstruir
dos estilhaços
A vida que sempre desmorona
nas madrugadas.
O vento espalharia com
Verocidade, cacos que
se decompõem lentamente.
Um carro passaria em velocidade.
Outro delito seria cometido
Nos becos da cidade.
Era véspera de um dia comum!
Era tudo tão igual...
Era um dia após o Natal.
Não fosse a sua ausência,
Seus óculos esquecidos na mesa de jantar,
Sua musica preferida silenciada,
O telefone agourento a tocar.
—Aceite meus pêsames...
Não me lembro se chovia
ou se fazia sol forte.
Sentia me espreitar
A ânsia da morte
Não sei quanto valia, naquele
momento, a minha vida.
Sangue, ferida, pele a carne viva
e a solidão, em meio a multidão.
Perguntava-me:
Morre mais quem vai ou quem fica?
FAROLEIROS
Agora eu sei
Do farol
Que nos guiou
por entre arrecifes
em meio a tempestade.
Agora eu sei das nossas
alegrias e do seu sorriso farto.
Hoje eu entendi
os momentos fugazes
As horas passageiras,
Nos ponteiros
dos nossos relógios.
Dos seus braços
Quando dos abraços
E a solidão ao termos
Que sair para trabalhar.
Agora sei que meu coração
Dependia do seu
para bombear
as agruras e alegrias
de cada dia.
Agora eu sei
Que na falsidade
da milha alegria,
Na mentira do meu sorriso
Há apenas uma falsa fortaleza
Que se desmorona a cada dia.
Me diz, então,
Se há um porto
Onde eu possa ancorar
enquanto
espero por você
com segurança.
ANCOLÓGICO
Terminar de viver
é o que me resta.
Não quero mais
Um relógio
que marca as horas lentas
Não quero mais as alegrias
Do que se foi.
Não faço questão de abraçar
os netos
Que virão.
Quero comigo
Todo o egoísmo do mundo.
Quero a ambição
de uma vida curta.
Quero uma lágrima quente
que deixe profundas cicatrizes em meu
rosto.
Não quero mais as rugas do tempo
Pois me bastam as crateras do sofrimento.
EXPLOSÃO
A angustia me basta
Nesta noite.
Do que vale
Ouvir o espoucar do canhões
Ou o tilintar de espadas
Se não há mais com
quem dividir
as incertezas?
A exterminação atômica
Não mais me fascina
E os megatons
fugidos no deslocamento do ar
Não são é suficientes
Para esquentar meu coração.
Uma vida sem nenhum valor
Não faz questão
do local ou estado em que se encontra.
Você sabia disso.
Você sabia que não sou forte
O quanto aparentei
Para te dar segurança.
Se meu coração parasse agora,
mesmo sem acreditar em reencontros,
seria menos sofrimento.
O que importa os outros
Se angustia dessa noite
me valerá?