O malabarista
Por que tão sério, malabarista,
quando jogas pra outro hemisfério
as tuas pistas, escondendo da gente
as vistas, as listas, os riscos
de derrubar tudo e não ter nenhum luto?
Por que tanto esforço e esmero,
se ninguém te dá aquele olhar sincero?
Por que não esqueces o que esperas
e abres espaço pra novas guerras?
Se queres te exibir, malabarista,
por que não te encerras
num casulo de espera
e aguarda o encanto:
Metamorfose borboletista?
Mas tigres-dente-de-sabre,
sempre alerta, sempre sabem.
E eu sei que contemplaste tanto
na tua infância elegante
e já tão distante.
Que aprendeste a esperar
sem prantos a atmosfera
de alcances. Mas te cansas,
malabarista, nessa diária
batalha aflita. Quem dera
pudesses livrar a humanidade toda.
Mas não podes.
Livra-te a ti, então!
Lembra-te da tua esguia figura
e escorrega pela loucura!
Ainda que para confundir seja necessário fazer sentido,
é possível atar-se a outras redes e ter outras sedes.
Vamos, malabarista, derruba um desses pinos no chão.
Não te apoquentes, não há de haver nenhuma
explosão, ninguém há de te cobrar perfeição.
No momento da queda, me dirás o que virá
da primavera. Dirás o que verás na nova esfera,
dirás qual será a ordem do dia e talvez troques
os signos, os livros, os riscos. Não há de ser o caos!
E depois, quando a terra atingir tua cabeça,
aja com o corpo, mas não te esqueças
das fantasias diárias que habitam o outro,
e a ti, cada um com sua indumentária.
Difusa e fluida, sem permanência.
Mas sempre uma batalha.