AOS FILHOS DE POMBAL
Jerdivan Nobrega de Araujo
Não sei se era eu quem partia
Ou eram eles que ficavam.
Só sei que aos pouco fui vendo
Tudo ficando para trás.
A Igreja do Rosário, a Matriz, a Praça.
Do Centenário e os amigos.
—Um dia eu volto... (sentenciei!).
Nunca mais voltei.
Transformei-me em filho único da solidão.
Tenho medo de voltar e não ser reconhecido.
Ser apenas mais um na multidão.
Às vezes penso que os garotos
Da minha infância não cresceram,
E ainda posso encontrá-los
Em frente ao Cine Lux
Para assistir às matinês de domingo.
No sábado, o jogo de bola.
Aos domingos tomar banho
Nas águas frias do rio Piancó.
- Sim o rio...
Às vezes me pego ali tomando
Banho nu, sem que seja censurado
Por quem passa.
Empurrar o “manguinha” de Joao Terto
Que só saía aos domingos à tarde era uma festa.
A primeira namorada para quem não tive coragem
De declarar-me, mas mesmo assim a amei.
Como só criança sabe amar.
O Grupo Escolar João da Mata
O futebol na calçada da Igreja do Rosário,
Que Deus nos perdoe, mas como era bom!
À tarde o jogo de dama à sombra das algarobas
Sempre vigiado pelos relógios preguiçosos
Da Coluna da Hora.
À noite a missa e o Cine Lux.
Tudo isso são sombras que apenas assombram
O meu sono.
Não mais existe, nunca mais vai voltar.
O bucolismo de Pombal
Transformou-se em apitos de fábricas
E os paralelepípedos impedem o crescimento
Das raízes das algarobas
Enquanto apagam a preservação das minhas raízes.
Minhas preocupações hoje são outras.
Mas serão importantes?
Vivo a me perguntar...
O trem que nunca parou na velha estação
Agora me espera em algum lugar do passado.
A vaga que foi minha agora está ocupada por um
Rosto que tem semblante do meu filho.
A velha fotografia de família
Marca o irmão que não mais virá
Para a ceia de natal.
Não mais o veremos pelas ruas de Pombal.
E o amigo que foi para logo voltar?
Ah! tempo.
Carrasco dos que ainda insistem
Em ter este sentimento arcaico
Chamado saudade.
Com certeza nunca tomaste banho nas águas
Doce do velho Piancó.
Nunca se apaixonaste pela primeira professora
Nunca dançaste pela rainha do Reisado.
Ou paraste para ver passar bailando alegre,
Sem motivos para tanto, os Negros
Dos Pontões.
Por isto despertas sem piedade
A adormecida saudade
No peito dos filhos de Pombal.