"O Tom das Cinzas"

"...Acabou a folia da Carne!

Ainda posso escutar o último tambor, a última nota da guitarra.

Visualizar o último beijo, corpos suados insistindo em dançar sem música.

Ver a lata de cerveja sendo catada, em tom de resistência, existência e símbolo de exclusão.

O sorriso dos canalhas, sem máscara ou mortalhas.

Uma festa que para muitos duram o ano inteiro pois trocam de máscaras o tempo todo.

E o ano começa para alguns, contabilizando a desgraça, para outros espalhando pirraça é inveja.

Para nós resta a esperança, está estampada no sorriso da criança ao lançar a serpentina no ar.

Na alegria da passista, na reverencia do mestre sala.

Que a boa sensação da festa não nos seja breve e o fardo da mesma, breve.

Que a posta restante oriunda do bem seja reclamada por todos, e o Amor, o novo Samba Enredo, a música do Carnaval. Na missa das cinzas amém,

Depois da quarta Ame a você e seu próximo, mesmo que esteja distante..."

("O Tom das Cinzas", by Carlos Ventura)