Na flor que nasce
na semente que brota
no ninho vazio
no botão da rosa
é inevitável a sua presença
Na flor murcha
na flor que morre
na orquídea sem vida
na flor lilás
é inevitável a sua presença
Em uma única flor do jasmim
na grama verde
no jardim de inverno
em toda parte
é inevitável a sua presença
Na nudez das árvores do outono
nas tardes frias de primavera
numa flor que nasce no pé do canteiro
é inevitável a sua presença
Na menor semente
na mais simples florzinha
na profundeza do mar
no menor grão de areia
é inevitável a sua presença
Nos quatro pontos cardeais
na capelinha vazia
no inverno da vida
é inevitável a sua presença
No ninho do beija-flor
no pé de jabuticaba
que com carinho cuidavas
é inevitável a sua presença
Nos enfeites natalinos
espalhados no chão
nas vinte pipas que guardavas na garagem
é inevitável a sua presença
No canto das cigarras
que anuncia o verão
num dia cheio de sol
é inevitável a sua presença
Nas orquídeas do mundo inteiro
nos monsenhores amarelos, roxos e brancos
na saudade que é flor roxa
é inevitável a sua presença
No ninho de juriti
na imensidão do espaço
no inverno escuro e frio
é inevitável a sua presença
Nas latinhas de cerveja
deixadas por ti na gaveta
para as horas de lazer
é inevitável a sua presença
Naquela casa azul
cheia de vegetação
deixaste tanto carinho
largado pelo chão
por todo canto perdido
é inevitável a sua presença
Nas mais rasteiras flores
nos pombais nas cachoeiras
no pé de laranja-lima
é inevitável a sua presença
Nos matagais, nas florestas
na areia da beira do rio
na lagoa da Coca-cola
em Casimiro de Abreu
é inevitável a sua presença
Nos campinhos verdejantes
na grama seca do inverno
nas nuvens claras e escuras
é inevitável a sua presença
Nas luas cheia, minguante e crescente
no céu estrelado
na garrafa de café
no maço de cigarros
é inevitável a sua presença
Nos bulgaris do mundo inteiro
nas murtas, nos cafezais
nos buganvilles cheirosos
é inevitável a sua presença
A saudade é uma flor roxa
faz jus ao nome que tem
é inevitável a sua presença em toda a natureza
no mundo inteiro
beijaste todas as flores
e foste embora como um beija-flor.
(Retirado do obra "Reminiscências Mornas" - Ed. Ágora)