Ciclicamente

Certo dia
todos nós voltamos
para o exato ponto
onde nos perdemos

O homem vem não se sabe de onde
e volta não se sabe pra onde 
Talvez do nada de onde veio

As aves sobrevoam mundos e
retornam com a estação
O sol brilha em todos os lados
se põe
e renasce

Os ponteiros do relógio
estão sempre voltando

Voltamos ao seio materno
à cama
à noite 

Ciclicamente voltamos
às regras
à fome
ao sono 

Por necessidade e prazer
voltamos à água

Os aviões voltam
Os peixes também
O mar vai e volta

O viajante volta à sua terra natal
mesmo em sonhos
O culpado volta à cena do crime
mesmo em pensamentos

Quem foge volta para o perigo
Volta quem se contentou
Volta o insatisfeito

Os homens voltam
para o bem e o mal

O bacharel volta aos livros
O velho volta à infância
O saudoso volta aos retratos

A gente sempre volta à nossa solidão
quando estamos fartos do mundo

E de todas as minhas reviravoltas
volto sempre pra você

Volto como
as aves
como o mundo
o mar
o sol
a sede

Para me encontrar 



Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 17/05/2007
Reeditado em 21/02/2009
Código do texto: T490257
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