"Off Line"

"...Nem sempre os amores são precisos, pontuais ou atentos.

Amores são distraídos, imprecisos, atrasados.

Não podemos ligar os amores, suas dores e imprecisões a modernidade da instantânea presença, ou da resposta imediata hoje usual na moderna comunicação.

Amores não se modernizam, são sentimentos antigos, são da pedra lascada, emitem sinais de fumaça e não tem Watsapp, não fazem selfies para Instagram.

Aparecem mesmo de cara, sem avisar não fazem postagens no Facebook.

Os amores são assim, humanos, cheios de defeitos, mais são amores.

Só não devem ser chamados de comuns, por não serem precisos em suas respostas ou distraídos com datas e números.

Os amores são assim, porque somos assim!

Porque amamos, porque perdemos o trem, o avião, a ligação, não respondemos a mensagem.

Em compensação o amor é o que nos motiva, é o mote, a imagem!

O amor é tudo que fizemos e dissemos a sós.

São as declarações não ditas pela boca, mas compreendida num olhar profundo.

É o toque das mãos entrelaçadas, o caminhar em silêncio lado a lado pelas calçadas.

Está na cadeira do cinema, no banco, da praça, na cama, no chão sob as roupas espalhadas, até nas "virtuais" relações.

Portanto não se turbe se o silêncio em algum momento foi ensurdecedor, tenha certeza de que foi por algum outro motivo e não por não se preocupar com quem é querido, ou falta de amor.

O resto são queixas amplificadas pela saudade.

Pois a verdade é que quem ama o ama não pelo que ha de vir e sim pelo que já é, e que sempre foi. Pois estava escrito em algum lugar, que não era a brilhante tela do smartphone ou do notebook, estava escrito no fundo dos olhos da pessoa amada e que para ser lido teve que haver o mergulho no fundo deste olhar..."

("Off Line", by Carlos Ventura)